Português? Presente

Colegas do Grupo Globo (jornal impresso,  G1, Revista Monet etc. e tal), deem um tiquinho mais de atenção ao texto, por favor.

O atento amigo encontrou ministro "pedindo desculpas públicas ao acontecido" — imaginamos que o Acontecido deve ser pessoa de muita importância no atual desgoverno, ou não seria digno de um pedido de desculpas, não é mesmo?

Uma ex-companheira de redação descobriu que tinha "abajur presente" na cerimônia do Oscar. 

Mais um cheio de prestígio. Ou o abajur era brinde para os atores que foram à premiação? Mesmo assim, não cola.

O caso do "sob risco" é mais grave.

Como constatamos a assídua colaboradora e eu, a insistência no erro está matando o correto EM RISCO.

A expressão "ESTÁ EM RISCO" CORRE O RISCO de sumir sob o peso da falta de intimidade com o idioma pátrio.

De delírio em delírio...

Acordei de um lindo sonho e descobri — graças à assídua colaboradora — que o pessoal do Ela delirou. 

Não quero estragar a ambição literária de ninguém, mas não dá para simplesmente inventar um vocábulo inexistente na língua e achar que virou um Guimarães Rosa.

"Entorpecência" não existe, crianças, procurem no Volp.

ENTORPECIMENTO é a palavra correta que vocês desconhecem.

De dar nó no cérebro

Vejam essa que eu recebi há pouco do colega de Minas.

Crianças, fiquei confusa.

Pausaram a suspensão, suspenderam a pausa, interromperam a interrupção... O que aconteceu, afinal?

Manchete tem que ser clara e atrair o leitor — não por ser tão confusa que o pobre coitado tem que ler a reportagem inteira para entender do que se trata.

Antes que eu me esqueça, o hífen de BEM-ESTAR não foi abolido (o de MAL-ESTAR, também não). Consultem o Volp.

Pior a cada dia

Os colegas do Globo devem ter criado na redação um concurso para ver quem inventa a regência mais estropiada da semana, no mínimo.

Vejam "o primor" que eu recebi da assídua colaboradora.

"Insiste a empresários", crianças?

Em casa vocês não INSISTEM COM seus pais para ter aumento de mesada ou coisa do gênero?

INSISTAM NOS estudos. Uma hora dessas vocês acertam.

Desta vez, acho que dou meu voto para a manchete estapafúrdia de sábado.

O cara que "insiste errado" é o mesmo que foi mandado pro "clima de Biden" — deve estar siberiano, imagino.

Uma amiga já havia comentado aqui o disparate e o atento amigo fez a gentileza de me enviar o recorte do jornal.

Por que não ir direto ao ponto?

As maravilhas não cessam no jornal O Globo.

Vejam o subtítulo enviado pelo atento amigo, que, como eu, não entende os caminhos tortuosos da cabecinha dos jovens colegas.

Tem que dizer que é "dentro de imóvel"? Não dá pra ser apenas EM CASA (ou NO APARTAMENTO)?  

Se acontecesse na rua, seria "fora de imóvel"?

Há algum tempo ele já tinha lido algo assim: "o corpo estava no interior do porta-mala do veículo", como se alguém saísse por aí com um defunto EM CIMA do carro.

Eu já começo a engasgar com "imóvel", "veículo" e outras bobagens.

Versos pra lá de tortos

"Poesia em desencanto".

Com este título deveras poético, o atento amigo me enviou o disparate encontrado da página 4 do Globo, em destaque aí na imagem.

Colegas, que "má versação" é essa? "Versação" nem existe na nossa língua, ainda que o amigo, inspirado, brinque de supor que seja coisa de "poeta que não sabe versejar".

As crianças não conhecem a MALVERSAÇÃO? Nunca leram a bendita palavra, tão comum no país? 

Significa "má administração; apropriação indébita de fundos, especialmente durante administração de patrimônio alheio, público ou privado; falta grave no exercício de um cargo".

Continuam não ligando "o nome à pessoa"? Não acredito.

Parem com a pluralização

O atento amigo me perguntou hoje:

"O que é que você está achando da reabertura dos comércios? Até o mês passado, reabria-se o comércio."

Pois é, colegas jornalistas, que "comércios" são esses? Gostaríamos de saber.

Quando vocês vão à Rua da Alfândega, a Camden Town, à Uruguaiana ou à Oxford Street, vocês entram nas lojas, ou "nos comércios"? 

Perguntem aos seus pais onde eles fazem compras.

Contabilizem as bobagens

Caros amigos, a imagem ficou bagunçada, mas é muita coisa para comentar e hoje a dor nas costas está braba.

Além disso, todas as bobagens provam o mesmo: os novos jornalistas desconhecem o sentido de muitas palavras e consultar dicionário saiu de "moda". 

A colega revisora mandou a "base superior" do Dia.

Como pode isso, colegas? Base é "a parte inferior de algo", é "o que sustenta".

A assídua colaboradora mandou as do Globo.

"Pisar" é "pôr os pés sobre", sabiam? E "contabilizar agressões"... Não tinham um verbo menos estrambótico, não?

Para completar, temos a "cerimônia do funeral", como se este não fosse aquela, e o sepultamento "em privado" (ui!) "na abóbada".

Será que içaram o corpo ou essa abóbada era a "base inferior" da capela?

Desculpem fazer piada com enterro, mas está dureza.

Milagre! Uma novidade!

A colega revisora descobriu pleonasmo novo na praça, pessoal.

Trata-se do "recluso em isolamento social", adequado a esses tempos de pandemia.

Deu até uma animada.

Já estava sem inspiração para falar das mesmas bobagens publicadas aos montes todos os dias.

Nesse momento crítico...

A chamada entrou no meu computador e eu estranhei a regência.

Aguém é "crítico a" outro?

Eu sei que a gente FAZ CRÍTICAS A muitas coisas e muitas pessoas, mas esse uso aí eu nunca vi.

Se eu estiver errada, corrijam-me, por favor.

Como se dizia, uma vírgula!

Colegas da Folha, seus professores de Português nunca dedicaram uns minutos para contar que não se separa o sujeito do verbo ou vocês simplesmente esqueceram a lição?

E não tinha um editor na redação pra dar uma melhoradinha na frase?, perguntamos a assídua colaboradora e eu.

Que tal ir direto ao ponto?

"O consumo excessivo dos chamados carboidratos simples aumenta os níveis de glicose e gordura no sangue".

É só uma sugestão. Há outras opções.

Um jeito estranho de dizer

A assídua colaboradora estranhou o título e mandou pra mim.

Nada contra o MEC (e não o ministro) demitir, isso é comumente usado.

Mas o "engenheiro no cargo", sei não. É engenheiro só no cargo? Fora do cargo ele vira o quê?

Falando em "virar", o atento amigo não aguenta mais a transformação da RECONSTITUIÇÃO DO CRIME — sempre usada pela polícia e pelos colegas — na horrorosa "reprodução simulada dos fatos" — que lembra "fertilização in vitro", mas, ao que parece, é coisa do Código Penal.

O amigo até brincou: 

"Provavelmente os repórteres modernos acharam muito 'démodé' a reconstituição e, quando ouviram 'reprodução simulada dos fatos', acharam aquilo um encanto!"

Sentimos decepcioná-las, crianças: "Juridiquês" não combina com Jornalismo.

Desculpem a longa ausência

Chamem-nos de conservadores, mas muitos colegas e eu não engolimos modinhas do Novíssimo Jornalismo.

O idioma não merece ser estropiado só porque sempre se renova.

Achamos uma esculhambação essa história de "melar foco" em título de coluna ou reportagem. 

Também não aguentamos mais o festival de "após", "sobre" e "onde".

Este último, só para lembrar, é advérbio locativo, refere-se a lugar — mas está rodando a internet nessa frase aí da imagem, NA QUAL o "EM QUE" é o mais adequado.

O texto também traduz minha atual falta de humor (e, portanto, de postagens).

De carro, mas não presente?!?

O amigo e colega veterano (como eu) não se conteve ao ver a pérola no G1: assinalou a coisa e me enviou.

Perguntamos: os novos jornalistas pensam que vacinação "drive-thru" funciona como um serviço de "courrier"?

Para as crianças, vacinação "presencial" é feita apenas em pedestres?

Agora todo mundo 'pontua'

Entre as muitas modas que só pioram as péssimas notícias que recebemos todos os dias, "pontuar" é das mais irritantes.

De onde os colegas tiraram essa ideia de escrever Fulano "pontua" isso, Beltrano "explica e também pontua" aquilo?

Acabo de ler uma matéria no Globo online em que ninguém DIZ nada, um espanto, mas "pontua" que é "uma beleza".

Para lembrar o que significa o verbo PONTUAR, DIZ o Houaiss:

1 apor sinais de pontuação ou usar sinais de pontuação

Ex.: <pontuar um texto> <o redator pontua mal>

2 Derivação: sentido figurado.

assinalar (algo) com (gestos, exclamações etc.) distribuídos pelo tempo de duração de sua ocorrência; pontilhar

Ex.: pontuou o discurso com exclamações de desagrado

3 Derivação: sentido figurado.

fazer as vezes de complemento de; associar-se a, acompanhar

Ex.: grande emoção pontuou toda a cerimônia.

Reprodutores e seguidores

Colegas do Globo, a assídua colaboradora e eu queremos saber o que é uma "reprodução simulada", da qual participarão os envolvidos no caso escabroso do menino Henry.

Também estamos cansadas de tanto "segue parado", "segue engarrafado", "segue fechado" etc. e tal.

Até a igrejinha aí, que devia CONTINUAR em recesso, não sabe o que fazer, porque mandaram seguir, mas não disseram pra onde ela vai.