domingo, 29 de janeiro de 2012

Fora do lugar, outra vez

O mau uso da crase hoje atacou a interessante seção de cartas do caderno Morar Bem. Está lá, na resposta do advogado especialista, que, ganhando direito a usar determinada área, a pessoa fica responsável pela manutenção da mesma...

... "inclusive no que diz respeito à toda e qualquer obra que seja necessária".

Por acaso ela também ficará responsável no que diz respeito ao todo e qualquer conserto que fizer lá?

Não custa lembrar que uma crase fora do lugar chama muito mais a atenção do que a falta dela. Busque sempre o masculino antes de usar.

Faltou pesquisa

Em nota do suplemento de televisão do Globo, intitulada "Oscarizáveis", a ótima Glenn Close foi classificada como uma das "estrelas da TV que concorrem a um Oscar em 26 de fevereiro".

Para quem chegou agora, como parece ser o caso de quem redigiu o texto, a atriz tem seu nome muito mais associado ao teatro e ao cinema do que à televisão e já foi indicada ao Oscar uma meia dúzia de vezes.

Pérolas noturnas

Amigo de longa data — que há alguns anos virou também meu alergologista — ouviu na noite de sexta-feira, no " Jornal das dez", algumas pérolas (infelizmente pescadas em meio ao desabamento no Centro do Rio).

A primeira saiu da boca da nossa presidente: "(...) espero que as pessoas sobrevivam e que sejam encontradas vivas." Diz o amigo: "Ah, tá!"

Depois, veio o repórter Eduardo Grillo e soltou: "(...) é flagrante uma coisa bem clara (...)." Meu amigo comenta: "Meu Deus!"

E eu retruco de cá: "Pode me aguardar em breve no seu consultório, porque já estou começando a me coçar aqui."

sábado, 28 de janeiro de 2012

A falta que uma edição faz

Tudo bem que o "Hoje" convide decoradores para dar dicas no telejornal. Porém, o quadro é fixo e semanal. Ou seja, dá tempo de prepará-lo e editá-lo com calma, para não pôr besteiras no ar.

Neste sábado, a matéria a respeito de uma tal "varanda gourmet" apresentou uma moça que punha "s" onde não devia e se esquecia do plural quando ele tinha que existir.

E foi um festival de "outras coisas que você pode usar é elementos decorativos", " por causa da chuva e do sol que danifica os móveis" e por aí vai.

Jornalistas X historiadores

Historiadores têm mania de misturar passado e presente num mesmo texto — com frequência, até na mesma frase.

Jornalistas devem evitar essa miscelânea, preferindo o texto direto e claro que convém à boa explanação da notícia.

Quando um contamina o outro, instala-se a bagunça completa, em que até o colega do Globo faz pergunta no presente — "(...) que obstáculos Artaud transpõe (...)?" —, como se o sujeito da frase, grande artista, estivesse vivinho da silva. Segue mais um trechinho:

Das catástrofes a Shakespeare

Ele derrubou monumentos e marcos turísticos, em “Independence Day” e “O dia depois de amanhã”; ressuscitou Godzilla; perpetrou “10.000 A.C.” — em que reviveu mamutes e outros bichos. Não satisfeito, deu vez à tal previsão maia que vaticina o fim do mundo em 2012, no filme homônimo — em que sobrou demolição até para o Brasil. Porém, nem tudo está perdido para Roland Emmerich: este ano, chega a vários países seu mais recente — e atípico — trabalho, “Anônimo”, em que a questão é ser ou não ser. Clique aqui para ler.

Tudo junto e misturado

Tem gente que não entende a velha história (ou regra) de não se misturar regências. É só ler um texto do Ela, com uma bonita modelo britânica, em que traduziram assim uma de suas declarações:

"(...) correndo pelos campos, andando a cavalo e bicicleta."

Anda-se a cavalo, mas vai-se de bicicleta (bem como de ônibus, de metrô etc.).

Inverta a frase e veja como fica: "(...) andando de bicicleta e cavalo."  Soa mal, não? Que tal "andando de bicicleta e cavalgando"?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Faz tempo, faz anos, faz séculos

A nota gigante "Isso tudo é bossa nova", da coluna Gente Boa, traz, no terceiro parágrafo, uma declaração de Ruy Castro: "Hoje fazem 24 anos que eu parei de beber."

Muito louvável a atitude do colega, escorregada feia de quem reproduziu a frase no jornal.

O verbo "fazer" aí indica tempo e não tem sujeito — portanto, não varia. "Faz séculos que não pulo carnaval", "deve fazer anos que não a vejo" (sim, nesse caso o auxiliar também não sofre variação) e, em março, "faz 13 anos que eu não bebo".

Pois é. O tempo passa, o tempo voa, e o "faz" fica quietinho, numa boa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Coquetel reeditado

Faz tempo que a nota abaixo foi publicada aqui — com o título "Não coma o drinque e beba a pizza", ou algo parecido — e, na época, a besteira tinha sido flagrada na TV. Como as bobíssimas "cruzadas" da Coquetel publicadas no Globo desde a morte do Santos Alves continuam misturando as coisas (como hoje), lá vai de novo a "receita":

1) Margherita é de comer (com o perdão da rainha). Trata-se de uma pizza, que, conta a história, foi criada em 1889, em Nápoles, durante uma visita dos reis italianos Umberto e Margherita, homenageada pelo pizzaiolo esperto.



2) Margarita é de beber (e sua autora devia ser boa de copo). Consta que, nos anos 1940, desafiada a criar um novo drinque, a socialite norte-americana Margarita Sames, em temporada de férias em Acapulco, no México, onde tinha casa de veraneio, criou a mistura que, muito justamente, foi batizada com seu nome.


Tudo anotadinho?
Agora, recomenda-se que ninguém peça uma ou outra na televisão se já tiver tomado umas e outras, combinado?

PS: também não escreva "cruzadas" quando já estiver cruzando as pernas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Acentos à parte

Decidi separar o aparte a respeito da nota que, na mesma Gente Boa, vem em seguida à do cavaleiro dono de bar.

Nesta, que trata de blocos do Rio, a questão é: como um compositor se faz entender com a nova reforma e uma marchinha chamada "Quem mora no meia não bobeia"?

Na coluna, burlaram a norma e publicaram "méia" e "bobéia". Só que estes acentos não existem mais. E o "Meia" não devia ser com maiúscula?

Questão de estilo

Na nota da coluna Gente Boa intitulada "Bar e cavalaria" e reproduzida abaixo, não há erros, mas faltou cuidado. Num texto tão pequeno, o excesso de "eles" e "elas" fica feio, para dizer o mínimo.



domingo, 22 de janeiro de 2012

O parêntese e as aspas

Pessoas que trabalham com palavras são mesmo muito esquisitas. Tanto que, numa mesa de bar, é possível flagrá-las num papo animadíssimo a respeito de... parênteses e aspas! Pois é.

Só para confirmar o que foi conversado, as aspas, de fato, são sempre plurais (sem o "s" final, trata-se de "antigo instrumento de suplício composto por dois pedaços de madeira cruzados em X"). Já os parêntesis, ou parênteses, admitem o singular. Está no Houaiss:

parêntese 1 ling palavra, frase ou período intercalados num texto para acrescentar informação adicional, mas não essencial, sem alterar a estrutura sintática original 2 gram cada um dos sinais de pontuação ( ) que delimitam essa frase ou período 3 fig. desvio momentâneo do assunto; digressão 4 mat símbolo utilizado para reunir os participantes de uma operação  p. retos gram m.q. colchete ('símbolo gráfico')  abrir parênteses 1 incluir o sinal ( na escrita 2 interromper uma frase ou exposição para apresentar uma digressão  fechar parênteses 1 incluir o sinal ) na escrita 2 encerrar uma digressão  etim gr. parénthesis,eós 'ação de intercalar, donde inserção de uma letra em uma palavra'.

sábado, 21 de janeiro de 2012

TV também é cultura — e tem música e mistério nas novas apostas


Séries de TV "Alcatraz”e “Smash” têm seus nomes ligados a dois produtores poderosos, apaixonados por fantasia e de gerações distintas: J.J. Abrams e Steven Spielberg. A primeira, cercada de grande expectatva e com o simpático Jorge García no elenco, estreia no Brasil dia 23, segunda-feira, na Warner.

Clique aqui para saber mais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O ano que mal começou

Um ano que morre, um ano que nasce, um ano que mal começou (ou que começou mal). Todas estas formas são aceitáveis.

O que não dá é para esquecer a preposição "em" na frase abaixo (da coluna Gente Boa):

"Um ano que morre John Lennon e nasce Dado Dolabella."

O certo é no ano em que aconteceu isso e aquilo. Como naquele filme, "O ano em que meus pais saíram de férias".

UFC golpeia até a inteligência

Hora de desligar a TV, entra o canal colcha de retalhos Globosat com uma mesa-redonda sobre o UFC, esse "ultimate festival" de selvageria e ignorância que extrapola a jaula, a arena, ou seja lá que nome tenha o local da pancadaria.

Entre as pérolas pescadas em um ou dois minutos, um debatedor fala das "lutas em gerais" (será disputada em Minas??!?) e outro diz que o lutador Fulano pode ter algum buraco que ele desconhece. Não esperei para ouvir as considerações a respeito dos orifícios do sujeito, embora imagine que, como os companheiros de surra, ele ganhe novos a cada confronto.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O super-hífen e a super-reforma

Alô, alô, pessoal da Net e Warner! O Super-Homem continua tendo hífen, mas seus superpoderes não têm, OK?

É bom ficar atento, porque essa nova reforma derruba até quem achava que sabia (quase) tudo do idioma pátrio. Digamos que é pior que a kryptonita para o famoso super-herói.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Urbe em obras de arte

Os 458 anos de São Paulo, completos oficialmente em 25 de janeiro, começam a ser comemorados antes na Caixa Cultural da Avenida Paulista. O espaço urbano em geral — e o da aniversariante em especial — é o tema da exposição “7 X cidade”, que abre na quarta-feira, dia 19, com 35 trabalhos de sete artistas brasileiros e curadoria de Enock Sacramento. Clique aqui para ler.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

De naufrágio e tempo reflexivo

Uma amiga jornalista, mais cedo, dizia-se inconformada com o uso da palavra "cruzeiro" no site G1 como substituto de "navio" ou "embarcação". Embora até, por extensão, admita-se que um signifique o outro, concordo que fica esquistíssimo dizer "o cruzeiro afundou", "o cruzeiro naufragou" etc.

Não bastasse a tragédia, há pouco ela encontrou outra, desta vez na Veja Rio online, em "Dez perguntas para Narcisa Tamborindeguy". E não pensem que foi numa fala da moça: foi no texto do jornalista mesmo. Está lá:

"Narcisa não se imaginava, no entanto, que seria alvo de críticas das outras ricaças " É só clicar aqui para ler (antes que alguém perceba a besteira e corrija). Explicação gaiata da amiga para a frase: "A  socialite deve ser muito reflexiva."

E eu não "me" imaginava que seria alvo de tanta bobagem hoje. Boa noite.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O vírus da vítima

As "vítimas fatais" voltaram a atacar, desta vez no "Hoje", diretamente do naufrágio ocorrido na Itália.

A repórter Ilze Scamparini destacou que já foram encontradas seis, mas que pode haver mais.

E quantas pessoas será que as vítimas mataram?

domingo, 15 de janeiro de 2012

David, Boy e Ney 'foi'?!?

Pego a revista de domingo do Globo — em que geralmente vejo o Xexéo, faço as cruzadas, me divirto com Bruno Drummond e Cláudio Paiva e acabou-se — e passo por matéria cujo subtítulo enganador menciona "truqes do maquiador".

Bem, não aprendi nada a respeito de maquiagem, mas descobri que "foi David Bowie, Boy George e Ney Matogrosso que instigaram" o entrevistado. Pois é, a frase vai para o mesmo lugar que o plural: o espaço.

PS: para minha surpresa, hoje há mais para se ler na revista. Estão muito bons o texto do colega Chico Otávio sobre a família Prestes e o artigo do cineasta José Joffily, ex-vizinho aqui do Bairro Peixoto.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Público X crítica

Se por aqui atrações como “BBB” e outros programas estilo “reality” e/ou apelativos e sensacionalistas são campeões de audiência, lá fora não é muito diferente. O filme de altas bilheterias também é, muitas vezes, o que faz os críticos torcerem o nariz — e o que agrada a eles nem sempre atrai grandes plateias. A música do momento será sempre do tipo “chiclete de ouvido” — com refrão variando entre “ai, se eu te pego” em diversas línguas, “baby, baby, baby” na vozinha infantil de Justin Bieber e similares. Bom exemplo são os People’s Choice Awards. Clique aqui para ler.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Desordem à japonesa

Antes de jogar fora o jornal de ontem, dou uma última olhada no Segundo Caderno e encontro a seguinte frase, numa coluna em que o tema me pareceu ser Kurosawa:

"Esse é lindo, chama 'Céu e inferno', é da década de sessenta, e é claro com Toshiro Mifune." (foto)

Primeiramente, faz falta o pronome no segundo verbo, "chama-se". Deve-se preferir também a forma "décado de 1960", com número e referência ao século passado (idem ao milênio).

Mas pior mesmo é tentar entender quem usou de clareza com Toshiro Mifune naquela época, quem falou claramente com o ator.

Imagino que a intenção do autor fosse dizer algo como: "Esse (filme) é lindo e, é claro, foi estrelado por Toshiro Mifune." (o uso do passado serve apenas para evitar o excesso de "é"). Podia ser também: "Esse é lindo e, claro, é com o ...", entre outras opções.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O que Dercy fará em seguida?

Abro a Revista da TV e, em matéria a respeito de Dercy Gonçalves (1907-2008), dou de cara com o subtítulo:

"Artista estrelou programas próprios, novelas e seriados em sua passagem pela TV".

Cheguei a pensar que se tratava de um texto a respeito da atriz que vai interpretar a comediante numa microssérie. Mas não, era da própria Dercy que estavam falando. E se ela fez tudo isso, imagino que fará muito mais. Só não me perguntem como.

sábado, 7 de janeiro de 2012

'Precisamos falar sobre o Kevin'
(e de outros sociopatas do cinema)

“Precisamos falar sobre o Kevin” estreia no Rio quinta-feira, na mostra “Um livro, um filme”, do Estação, e está programado para entrar em circuito dia 27. No vaivém das memórias da mãe de um assassino sociopata (Tilda Swinton), voltam à lembrança outros filmes — de ficção ou baseados em fatos — disponíveis em locadoras e no cardápio de alguns canais de TV. O primeiro, claro, é “Elefante”, de Gus Van Sant, baseado no caso real ocorrido em 1999, que também rendeu o documentário “Tiros em Columbine”, de Michael Moore. Ambos merecem ser vistos (ou revistos), apesar do incômodo que provocam no espectador. Mas precisamos falar do assunto, fazer o quê? Clique aqui para ler.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Casas personificadas

Esta veio da serra fluminense, no Norte do estado. Diz minha amiga, que a ouviu no "Brasil TV" (noticiário da Rede Globo exibido no mesmo horário do "RJ-TV", "SP-TV" etc., apenas para quem tem antena parabólica):

"Ontem, no fim da tarde, a repórter anunciou que, num dos municípios afetados pelas últimas chuvas, 680 casas vivem em áreas de risco."

Pergunto eu: ninguém vai levar as pobres casinhas para algum abrigo?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Imortal ressuscitado

A Globo acaba de ressuscitar a imortalidade, contida no tal "risco de morrer", que parecia definitivamente enterrado.

Hoje, no telejornal homônimo, alguém se salvou de um acidente e, de acordo com a repórter, ganhou superpoderes, pois "não corre mais o risco de morrer" — que nós, pobres mortais, corremos todos os dias, a cada minuto.

Que essa triste tentativa de reinventar o idioma morra aqui, no segundo dia do novo ano, juntamente com outros tantos modismos e invencionices criados por quem não tem mais o que fazer.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Dói mais que artrose

Depois de um sensacional réveillon, faço a festa nas primeiras leituras do novo ano. Veja uma das pérolas encontradas entre as muitas dos anúncios do Facebook:

"Artrite, Artrose e Reumatismo, conheça fitoterápico que te surpreenderá, veja pesquisas e vídeos." (sic)

Precisa dizer mais? Com a palavra, os destinatários da mensagem, Artrite, Artrose e Reumatisno (e mil perdões pelo péssimo Português do remetente).

Bloco colocado

Não custa lembrar, neste iniciozinho de 2012, dos verbos "pôr" e "botar", desaparecidos do mapa, quer dizer, do vocabulário dos brasileiros.

Agora, como se lê hoje no Globo, até bloco de carnaval tem que ser patrocinado e colocado, pois nada funciona sem patrocínio ou colocação (para quem está chegando: o carnaval aqui começa antes do Natal; aliás, dura quase o ano inteiro).

O que foi feito do bom e velho carnaval dos tempos do saudoso amigo Sérgio Sampaio, que cantava "eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer (...)"? Experimente entoar isso com o horroroso "colocar".

Para começar o ano

A repórter da Globo News acaba de informar qie o réveillon de Copacabana ganhou prêmio de melhor festa de Ano Novo, em todo o mundo, da "associação internacional de turismo World Travel Award" (sem "s" no fim).

Como "award" significa prêmio, desconfiei e decidi conferir. Está na internet, no site Globo.com, que o dito cujo foi concedido pelo World Travel Guide.

Quem está certo e quem está errado? Custa checar as informações antes de escrever ou dizer bobagem? Feliz 2012!