quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Plantas, bichos e hifens

Começando a leitura de "O oceano no fim do caminho", presente da minha irmã, encontrei uma rosa-mosqueta não hifenizada.

Pra quem ainda se atrapalha com as mudanças promovidas pelo desacordo ortográfico, enésima mexida no nosso tão maltratado idioma, um lembrete: a fauna e a flora escaparam dos desatinos acadêmicos.

Ou seja, as rosas-mosqueta (ou rosas-mosquetas, como preferirem) não perderam o popular "tracinho", OK?

Quem é Tween?

Abri O Globo online para ler o Verissimo, mas o jornal consegue ser pior de navegação do que de Português.

Numa primeira busca, o que eu achei foi esse trem aí da imagem.

Juro que abri o texto pra ver se havia um personagem chamado Tween. Não achei (assim como o Verissimo).

Como tem "adolescente" no subtítulo, imagino que pensaram em usar TEEN, no Inglês de que tanto gostam.

Será que há um jovem gêmeo  — TWIN —  nesse conto da carochinha, resolveram criar um neologismo e...

Os colegas que já se achavam a reencarnação de Guimarães Rosa estão passando a Shakespeare. Uau!

PS: uma amiga acaba de me contar que "tween" existe e que é uma aforma abreviada de pré-adolescente — em Inglês, é claro. Não invalida a péssima escolha. E embaixo está "adolescente", não "PRÉ". A gente tem idioma próprio, não tem?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Os piores planos

Uma amiga acaba de postar manchete do MSN Dinheiro que diz:

"Governo estuda plano onde trabalhadores abrem mão de férias e 13º".

Tente não pensar na sua aposentadoria.

Apenas leia a frase, que trata da reforma da Previdência — e esta NÃO É UM LUGAR.

Portanto, alguém estuda um plano EM QUE, ou NO QUAL os trabalhadores se etc. etc.

Caso o governo estivesse comparando um plano material com outro, talvez espiritual, ONDE o trabalhador seria recompensado pelos sacrifícios que fez em vida, tudo certo. Cada um acredita no que bem entende.

Eu só gostaria que os colegas respeitassem o idioma pátrio. É pedir muito?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Inea em extinção?

Todos sabemos que nossos governantes desgovernados não se preocupam com a preservação da natureza (basta acompanhar o noticiário).

Nem por isso o Inea precisa entrar pra lista de espécies ameaçadas — muito menos de livre e espontânea vontade.

Vejam se não é isso que anuncia o portal da instituição, visitado hoje pelo atento amigo?

A onça-parda está completamente deslocada no título, coitada.

Ela, um monte de vírgula e um "onde", atrelado aos técnicos. Ou estes agora são um lugar?

Quando vamos aprender que a ordem dos fatores pode ser irrelevante em certas operações matemáticas, mas é importantíssima no texto?

Mais respeito com a sétima arte

Inventei de procurar um texto horroroso que vi dia desses num site de cinema que se pretende sério.

Falava da ótima (e premiadíssima) animação "Homem-Aranha no Aranhaverso" e tinha crase em "a uma" (alguém aí vai "AO UM" bloco, por exemplo?) e erros de concordância em profusão: "a ousadia tornam",  "o argumento não abusam", "a inserção fazem"... Daí pra frente, só decai.

Resultado da busca: não só encontrei o texto da semana passada com todas as barbaridades intocadas, como achei "a 2ª pior audiência DE SEMPRE"!!!

Vai ganhar o troféu de um dos piores títulos de TODOS OS TEMPOS.

Cá com os nossos botões...

Segue uma nota rapidinha, porque cheguei de um ótimo fim de semana em São Paulo e o soninho está chegando.

Trata-se de uma legendinha esquisita do Globo, que foi publicada no sábado e estimulou a imaginação do atento amigo.

Diz ele, com a fina ironia de sempre:

"Será que você consegue explicar pros colegas que BOTON pode até ser um pedaço do méson pi, mas não significa o que eles estão pensando? Que BOTTOM é fundo, ou mesmo bunda, em sentido amplo? E que esse negócio aí que o cara quer falar só pode ser BUTTON, o botão de lapela?"

Os jornalistas anotaram direitinho, pra não errar mais?

O leitor agradece. Nós, também.

PS: perceberam o "SEGUE" abrindo o texto? É porque ele SEGUE mesmo, VAI escrito aqui, não "continua".

PS 2: acordei, consultei e descobri que o Volp até aceita o aportuguesamento "bóton", mas com ACENTO, tá?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Marketing de mau gosto

O leitor de Minas, terra também da minha família, embatucou com o "marketinguês castiço" da frase:

"Não demos por encerradas as tratativas".

Informo às empresas que ora empregam o termo que TRATATIVA é TRATO, ACORDO.

Essa história de "tratativas não encerradas" é pura invencionice, um eufemismo para a tradicional EMBROMAÇÃO.

A boa interpretação

Nem só de MÁ interpretação (entenderam, colegas do Globo?) vivem a imprensa e as Letras no nosso país.

Além dessa gracinha aí da imagem (de hoje), a assídua colaboradora encontrou uma tradução de arrepiar os cabelos dia desses.

O livro trata de roteiros cinematográficos e o tradutor (ou tradutora, ou programa de internet, não sei) já começa insistindo num vocábulo antigo, que não emplacou por aqui, embora tenha sido usado por Monteiro Lobato: "estória" (dos velhos anglo-franceses "estorie" e "estoire")

Tem tanto erro, mas tanto erro, que eu recomendaria a seu autor, Robert McKee (renomado professor de escrita criativa, segundo o Google), mandar recolher todas as cópias impressas no Brasil.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

No 'Globo', é carnaval todo dia



A querida amiga me enviou essa coisa na segunda-feira, mas eu me enrolei e...

Antigamente, "pra rua" era a ordem dada a jornalistas que não sabiam escrever.

Hoje, ao que parece, vale tudo no "maior jornal do país".

Leiam isso aí e me digam: com que diabos concorda a frase "que teve 23 blocos"?

Com "fantasias caprichadas" ou com "pessoas de todas as idades"?

"Pessoas teve 23 blocos"? "Fantasias teve 23 blocos"?

Que língua é essa que vocês usam, colegas?!?

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Mosquitos mordedores, bocas etc.

Charges de Cícero e Luke Maciel
Enquanto o pessoal do Globo e do G1 não aprende a usar corretamente os advérbios de tempo, passemos a outras coisas que os colegas de lá também não compreendem.

O Ancelmo Sempre Ele Gois, como comprovou ontem uma querida amiga, ignora que a linguagem informal não cabe em nota séria.

No dia a dia, é claro que dizemos: "Um pernilongo sem-vergonha me mordeu".

No "maior jornal do país", escrever que uma atleta "foi mordida pelo mosquito Aedes aegypti" não cai bem, porque esses insetos PICAM a gente.

Bom, vai ver a "mosquita" usou a "boca dela" para dar a mordida.

O cacófato está em matéria mais que mal escrita enviada por uma leitora — e é óbvio que o título tem "após" bobão, alguma dúvida? (clique para ler)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Descubra quantos erros tem

Acho que vou criar uma brincadeira aqui. Pode se chamar "Descubra os erros".

Pego um pedaço de matéria como essa aí do Globo, enviada pelo leitor de Goiânia, posto e espero, pra ver quantas bobagens serão apontadas.

No trechinho em destaque, mal batemos o olho, vimos o "após após".

Logo percebi outra besteira, a mania do "segue sem sair do lugar", porque agora falamos Espanhol e o verbo CONTINUAR caiu em desuso.

Também há uma regência que eu ainda não engoli.

Daí pra frente, tem mais, muito mais.

Sem contar que todo mundo agora é "auxiliar" (não me perguntem de quê) e vem mais "após" "após" tudo isso aí, de acordo com a tarjeta do jornal que entrou na minha tela há poucos minutos.

Matadores de aula

O erro enviado pela assídua colaboradora — "publica-se textos" — está na página 4 do Globo de hoje.

Seu autor deve ter pulado a aula em que apendíamos: "VENDEM-SE casas", "TROCAM-SE livros" etc. etc., sempre fazendo a concordância no plural.

Já os que recebi do novo colaborador saíram no online há pouco tempo, mas certamente continuam na internet, sem correção.

Como comentou o colega, no nosso tempo dizia-se "AO sair da escola".

E acho que, em qualquer situação, também nos recusaríamos A fazer coisas que ferissem a Constituição.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

No ar, não fale sem revisar

O atento amigo mandou duas pérolas pescadas na Band.

São fresquinhas, de hoje, e doem no ouvido.

1) "A decisão foi motivada devido (...)".

Colegas, "motivar devido" é dose. No meu tempo de jornal, um trem desse motivava demissão.

Versão alternativa: "A decisão de demitir Fulano foi motivada por absoluto desconhecimento do idioma".

Perceberam que o "devido a isso ou aquilo", ou seja, "o motivo", está DENTRO do verbo "MOTIVAR"?

2) "(...) pediu para lembrar sobre (...)".

A pessoa estava SOBRE a mesa, SOBRE a cama, ou o quê? 

Porque, em "condições normais", a gente lembra alguma coisa a alguém, ou se lembra de coisas mil... 

"Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados".

Não sou Juvenal Urbino, mas com frequência me lembro da primeira frase de "O amor nos tempos do cólera", do Gabriel García Márquez.

Trama policialesca

Aproveitando o ensejo, gostaria que alguém me explicasse essa manchete do Globo.

Eu prefiro "ESTUDANTES da rede municipal voltam às aulas" a "ESCOLAS (...)", mas o que mais me intriga nessa história é eles ou elas voltarem à ativa com itens roubados!

Quem cometeu o crime: os diretores, os professores, ou quem sabia de tudo e deixou os ladrões retornarem ao trabalho com o butim?

O 'bobajal' está de volta!



Não pensem que os meus poucos dias de ausência foram provocados por um cursinho relâmpago dado aos colegas, um aprendizado rápido e milagroso do Português, desses que vivem anunciando por aí (acho que só há para outros idiomas).

Enquanto eu resolvia alguns problemas, o atento amigo e algumas queridas amigas (com a assídua colaboradora na liderança, é claro) me enviaram coisas de arrepiar.

Fiquemos no Globo, pra facilitar a "nota de retorno".

A incidência do "após" absolutamente bobo e dispensável cresceu horrores (a imagem traz uma amostra).

Tivemos "um morto que morreu", a pior forma inventada pela imprensa para transformar desgraça em piada.

Uma casa foi destruída "por volta de 22h15", outra piada de mau gosto.

Ah, sim, quase me esqueço. Nas emissoras de TV do mesmo grupo, inventaram mais uma: a pessoa ter "melhoras no tratamento". Uau!

Deve ser coisa da medicina moderna: surgem aparelhos cada vez mais eficientes e o tratamento se sofistica diariamente; já o paciente...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Curtíssima

Alguém sabe explicar o que vem a ser isso?

A assídua colaboradora não entendeu, nem eu.

Saiu impresso ontem e continua no Globo online até hoje, desse jeitinho aí.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Concorde o verbo corretamente


Os dois casos de concordância equivocada que a assídua colaboradora achou no Globo estão em reportagens que envolvem o descaso dos nossos desgovernantes.

É errado dizer "uma das que está".

Entre AS barragens que PODEM (no plural) romper, ENCONTRA-SE (no singular) a de um lugar que eu amo, Itatiaiuçu.

Ou seja: (ela É) uma das que ESTÃO em risco.

Já o "aproximadamente veio" versus "20 metros vieram" não é discutido sequer pelo consultor de Português do jornal.

Ele relativiza um monte de concordância, mas aceita que não há dúvida quanto ao plural em "aproximadamente", "cerca de", "em torno de", "por volta de" e similares.

Aproximadamente 20 metros VIERAM abaixo, da mesma forma que cerca de 30 árvores CAÍRAM, em torno de mil pessoas PERDERAM tudo no temporal do Rio de Janeiro e assim por diante.

Colega, não troque as bolas!

Estou me tornando repetitiva, mas é impossível não se preocupar com o destino do idioma quando colegas de rádio e TV (que imaginamos ter curso superior) falam com o público usando erros comuns a quem tem pouca instrução — infelizmente, a vasta maioria neste nosso pobre país.

SALTARAM das ruas para a mídia, num pulo, o uso equivocado de frases como "soltei da condução".

É bom lembrar que a gente SOLTA o corrimão (em que se segura com força, pra não cair na hora da freada) e SALTA do ônibus, descendo do último degrau para a calçada.

Quanto a SUAR e SOAR, infelizmente estão cada vez mais frequentes no cotidiano do Rio.

Nossos verões fazem a gente SUAR baldes.

Eu SUO muito. Você SUA também?

Pra completar o inferno, vendedores de tudo SOAM na minha vizinhança diariamente.

SOA o cara do ovo, SOA o das frutas... Todos aos berros, em alto-falantes.

Eles SOAMretumbam, ecoam assim na sua rua?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Trago preocupações e verdades


Tem novidade no "Globo News em Pauta", segundo uma querida amiga.

Não apenas trocaram o âncora do programa, como o moço inventou, no ar, um novíssimo — e erradíssimo — particípio pro verbo TRAZER, na frase:

"Obrigado por ter trago".(ui!)

Desconheço o colega, mas peço a ele, encarecidamente, que consulte dicionários e repita cem vezes:

"OBRIGADO POR TER TRAZIDO!"

Quanto ao "trago", se não for do PRESENTE "eu trago, tu trazes, ele traz", deixe pra tomar com o redator da campanha de prevenção do câncer de pele, que usa lindos dálmatas pra dizer que há pintas bonitas e inofensivas e "outras QUE precisamos nos preocupar".

Por favor, pessoal! A gente se preocupa COM alguma coisa — então, há pintas COM QUE precisamos nos preocupar, COM AS QUAIS precisamos nos preocupar...

Eu me preocupo muito com o futuro da última flor do Lácio, inculta e bela.

Advérbios de tempo fora de hora

Vejam a coisa ridícula que o leitor mineiro encontrou e me enviou, com a mui pertinente sugestão:

"Bastava dizer: 'Jogadores do Atlético prestam homenagem aos atletas mortos no Ninho do Urubu'."

Mais do que suficiente, não é?

Por que os colegas enfiaram na cabeça que têm que meter os advérbios de tempo em qualquer frase que escrevem?

Esses "antes" e "após" não acrescentam nada ao título e, juntos na mesma frase, só ressaltam o uso absurdo que se faz deles — além da falta de conhecimento do idioma, obviamente. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Tradução ruim e fantasiosa

Transformar seu Fusca num Rolls-Royce.

Este é o novo sonho da irônica e assídua colaboradora, que me enviou delírio similar, postado com destaque no Globo.

Pessoal, dá uma lida no título original da Bloomberg:

"Pot Without Plants Is Goal of New Cannabis Fermentation Venture".

Deu pra perceber que não há milagre da transubstanciação ou sugestão de alguma velha alquimia, que buscava a pedra filosofal e pretendia transformar qualquer metal em ouro? Pois é.

A manchete sensacionalista comprova a decadência do jornal, que passa também por uma "carificação" — transubstanciação promovida pela Escola Caras de Jornalismo, que "vende" como notícia qualquer irrelevância.

Repudio as regências erradas

Quando vão providenciar umas aulinhas de Português pros colegas do Globo, especialmente para os editores? (imagino que estes sejam veteranos e, portanto, mais familiarizados com o idioma.)

Não foi por falta de bobagem enviada pela assídua colaboradora (e outros amigos e até leitores) que o movimento por aqui tem sido calmo, infelizmente.

Todos os dias aparecem coisas como o "repúdio contra" de hoje, saídas da imaginação de quem desconhece não apenas a língua, mas um livro sensacional, conhecido como DICIONÁRIO.

Então, vamos lá, pessoal.

REPÚDIO é o ato de repudiar, repelir; é não aceitação, rejeição.

Quando alguém REPUDIA A CENSURA ou A TORTURA, por exemplo, está implícito que a pessoa é CONTRA ELAS.

O uso da preposição "contra" aí é errado. Ficou claro?

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Pinturas mutantes


Uma querida amiga viu a legenda aí da imagem, começou a rir e me mandou, com o comentário irônico:

"Depois que saiu do MAM, a tela ficou diferente?"

Pois é, caros editores.

Bastava ter posto "Arquivo" ou coisa do gênero lá no alto.

O quadro do Pollock é o mesmo e a parede pode ser de qualquer lugar, não faz a menor diferença. Entenderam?



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

De fraudes, fraldas e mau Português

Os responsáveis pelas legendas da série "Sparta" (ou "S'parta", como está no IMDb) devem fazer muitos trabalhos para a Netflix — e, talvez, não apenas para ela.

Infelizmente, não são cuidadosos com o texto.

Eu não entendo nada de russo — tirando uma ou outra bobaginha, como dasvidaniya e spasiba —, mas entendo de Português e percebo os erros com facilidade.

O mais marcante, até o momento, é a troca do "L" pelo "U" — e vice-versa.

Pra quem faltou a essa lição na escola, existem pessoas MAL-HUMORADAS e BEM-HUMORADAS.

E todos temos dias em que acordamos de MAU HUMOR — ou existe alguém que vive permanentemente de BOM HUMOR?

A FRALDA, usada por bebês etc., é com "L". "FRAUDA", com "U", é do verbo FRAUDAR — eu não fraudo, mas, se eles fraudam, a FRAUDE está feita.