Hora de jogar fora os jornais do fim de semana, dou uma última olhada no Globo de sábado e percebo que não li a matéria a respeito do Abílio Diniz, que passou o controle do Pão de Açúcar ao grupo Casino. E eis que, no pé do texto, encontro um exemplar do "complexo de Saramago", tão comum entre colegas de profissão (meus, não do genial português).
Para quem não entendeu, explico: o escritor sabia como ninguém (ênfase no "como ninguém", por favor) mudar de sujeito no meio da frase, sem, em momento algum, deixar o leitor confuso, mesmo não usando pontos e vírgulas.
Já os jornalistas se esquecem de que isso não é tarefa simples e que nosso texto tem outra função, não literária. Na frase "(...) Diniz afirmou que 'este não é o momento de acertarmos as contas' (...)", por exemplo, o repórter se incluiu na ação, porque o empresário não usou o plural majestático no restante da reportagem.
Mais comum (e pior) ainda é quando o colega se apropria de obra alheia, com construções do tipo "Fulano vai lançar o livro que considera 'o meu melhor trabalho'". Nada como interromper a sentença, pôr dois pontos e começar outra, para ficar claro a quem pertence cada coisa — e cada fala.
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