sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ninguém aguenta mais o 'após'

Mesmo tendo visto no Globo de hoje alguns exemplos da praga, como os que reproduzo na imagem — e dois estão na mesma página! —, fiquei com preguiça, achei que ia me repetir, essas coisas.

Mas aí o amigo e colega jornalista Romildo Guerrante tocou no tema. E o fez com tanta propriedade que eu copio seu texto aqui:


“Há uma febre contagiosa com o advérbio ‘após’, que virou coringa em tudo quanto é notícia. Observem na leitura de jornais e informativos de internet. Hoje eu li o seguinte: ‘Mantega deixa sede da PF em São Paulo após revogação da prisão’. Percebo que esse ‘após’ é rigorosamente inútil, pois o título ficaria melhor e mais informativo assim: ‘Moro revoga prisão e Mantega deixa sede da PF em São Paulo’.

Mas a coisa continua. ‘Jovem morre após acidente causado por assaltantes durante fuga’. Noto que todos morrem após acidente, como se fosse possível morrer antes do acidente. Até podia sim, pensando bem, a pessoa percebia que ia haver o acidente e tinha um enfarto.

Vamos a mais um caso nos jornais e redes de hoje: ‘Universitária denuncia professor após ser filmada no banheiro em MT’. Pra quê esse após? Universitária filmada em banheiro em Mato Grosso denuncia professor’. Não é mais informativo?

E segue o baile: ‘Filho de Mia Farrow morre aos 27 anos após acidente de carro’. Por que não dizer que morreu em acidente de carro? Não morreu na hora? Às vezes escrevem durante o acidente. Dia desses eu li que alguém morreu durante o capotamento de um carro. Não consigo saber, nem o perito, em que momento a cabeça do cara bateu no retrovisor e ele apagou. ‘Ex-BBB Cacau comemora mudança no corpo após perder 10 kg'. Não ficaria melhor assim: ‘Ex-BBB Cacau perde 10kg e comemora mudança’?

Acredito que isso tenha nascido com a febre da contextualização. Foram ensinar contextualização e amarraram de tal forma o sequenciamento dos fatos que deu nisso. Cartas para a redação.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário