domingo, 30 de dezembro de 2018

Quem mandou buscar?

Dizem que quem procura acha. "Então".

Fui atrás da chamada mencionada em comentário na nota anterior e não encontrei somente a moça "morta após câncer" (isso é coisa que se escreva, gente?).

Tem mais "após" absolutamente deslocado, mulheres que apenas "citam" o efeito positivo de algo importante e... — pasmem! — descobri que brasileiro está procurando doença por aí.

Não bastam as mazelas que grassam no país? Vamos "buscar febre amarela, ansiedade e herpes", pessoal? 

Que hipocondria é essa que os colegas do G1 inventaram?!?

Lembrem-se do que eu escrevi acima: quem procura acha.  

Regência, essa maltratada

Nota curtinha pra começar o domingo.

A assídua colaboradora mandou a imagem, com a pergunta:

"Conexão ao?!?"

Pois é, crianças, não existe essa regência esdrúxula.

Há CONEXÃO PARA, CONEXÃO COM, CONEXÃO DO ou DA, CONEXÃO ENTRE uma coisa e outra...

Que tal os jornalistas abrirem menos champanhe e mais dicionários pra celebrar o que promete ser um ano novo nada agradável?

Pra quem não sabe, há publicações que tratam de regência, nominal e verbal.

Fica a dica.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Cuidado com a informalidade

Ontem prometi comentar horrores encontrados pelo atento amigo no tal do Dicionário Informal.

Estão lá coisas como: "Você não poderá ir a rua!" — assim mesmo, sem crase — iniciando uma incrível explicação do sentido da expressão "f...-se!".

A dita cuja é a sequência do diálogo iniciado com a frase escrita com erro, assim como a que vem abaixo:

"O f...-se dependendo da forma que é pronunciado passa diferentes estados (...)".

1) Cadê a pontuação?

2) "Forma QUE é pronunciado"?!?

Procurem num dicionário de verdade A FORMA DE SE DIZER alguma coisa, por amor ao idioma e ao leitor.

Esse bendito "que" deslocado nos faz acreditar que os colegas do Globo bebem com frequência nessa fonte contaminada.

É só ver os dois exemplos enviados pela assídua colaboradora.

O primeiro é um subtítulo:

"Avô, que dirigia o carro que caiu na água ao entrar na embarcação, está internado após saber que neto não resistiu". (sic)

O segundo é uma legenda:

"Violência é um dos problemas que afetam visitantes que tentam subir até o monumento no alto do Corcovado". (sic outra vez)

No texto do carro "que entra e cai", ainda há frases como "era muito apegado NO pai e NAe" (AO pai e À mãe, por favor!) e "O garoto era sem explicação". E ponto final. Acreditem.

Alguém tem explicação pra isso? Ligaram o f...-se?

Seria um 'linguicídio'?

Há dois dias estou colecionando pérolas enviadas pela assídua colaboradora, todas pescadas no Globo.

Temos o novíssimo pleonasmo "mulher é vítima de feminicídio" em título (uau!).

Em algum momento, no passado recente do jornalismo, usamos "pai é vítima de patricídio", "mãe é vítima de matricídio" e similares?!?

O que será que os editores imaginam que seja o prefixo "FEMIN-", originado do Latim "femina, feminæ etc."?

Bom, provavelmente eles são os mesmos que desconhecem que "SERIA" é o futuro do pretérito do verbo "ser" e passam um parágrafo inteiro descrevendo como "seria" um assassino que, na terceira linha, se entrega à polícia, ao vivo e em cores, com nome, sobrenome e documentação com foto (acreditem!).

Na mesma história, consta que o homem "estava há menos de um quilômetro de distância do local do crime" (ui! Essa doeu...).

A informação "de distância" é absolutamente dispensável, mas a preposição "A" é insubstituível, OK? O verbo "HAVER" não cabe na frase.

Estamos A poucos dias de 2019 e HÁ MUITO TEMPO (ou "faz muito tempo que") os colegas da redação deviam estar A menos de um metro de um dicionário impresso e A um clique de um BOM dicionário eletrônico.

Atenção: eu disse BOM. Em breve contarei os horrores que o atento amigo encontrou na "informalidade" da internet.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Insinuações perigosas

O Jardim de Infância Pequeno Jornalista continua produzindo manchetes divertidíssimas.

No Estadão, um amigo achou o que definiu como "a volta da Inquisição":

"Com queima de fogos e Gilberto Gil, réveillon de Copacabana deve reunir 2,7 milhões".

Custava muito inverter e não fazer piada involuntária? "Com Gil e queima..." fica tudo certo — e não me venham com a desculpa do espaço, problema inexistente no online.

É só ver essa "gracinha" aí na imagem, encontrada por outro amigo.

O "botinha", como ele chama, vai entrar no ramo do tráfico de adolescentes?

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

É muito relaxamento...

Hoje cedo, a assídua colaboradora leu O Globo e encontrou "A The Fevers" abrindo nota do Ancelmo Sempre Ele Gois.

Ainda sem a minha dose diária de café, achei até que se tratava de uma boate — nem me veio à cabeça a banda (ou o grupo, o conjunto...) que fazia sucesso quando eu era adolescente.

Naquele tempo, eu só ouvia "os Fevers".

Querem manter o "the"? Recursos não faltam: "o grupo The Fevers" é um deles.

Estoura o espaço? Escreve direitinho "CONSIDERA O quintal de casa", sem os penduricalhos "como" e "um",  e vê se não cabe?

Mais tarde, "Sempre Ele" deu as caras por aqui outra vez, em mensagem da amiga de longa data, ex-colega de redação.

Não basta trocar o nome do Raúl Castro e tascar "Quadros", tem que exagerar no plural? São DESTAQUE, né? E chega.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O mistério da interrogação

O atento amigo pergunta — e eu também quero saber ("saber?"):

"Como é que um sujeito pode ser redator de publicidade e usar um ponto de interrogação como esse?"

Cartas para a "redação". Feliz Natal.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Feliz Natal com mais profissional

Encerro o "expediente" com votos de um feliz Natal pra todos e um 2019 com revisores, tradutores e dicionários nas redações.

A julgar por mais uma que a assídua colaboradora mandou há pouco, a verba no Globo anda tão curta que sai mais barato jogar no Google um texto chinfrim do New York Times e... dane-se o leitor!

O tradutor do Google acredita que "to pack" significa "embalar". ("unpack", "desembalar", ui!)

Qualquer pessoa que consegue abrir (e ler) um Aurélio ou um Houaiss — eletrônico ou impresso — sabe que o verbo, em bom Português, quer dizer "acondicionar (mercadorias ou objetos) em pacotes, fardos, caixas etc., a fim de protegê-los".

Não é comum usarmos o correto "emalar".

Preferimos mesmo FAZER MALA, LEVAR BAGAGEM. E não gostamos muito de "ficar ausentes" assim, sem mais nem menos: ficamos FORA.

"Ser mais móvel" ("mesa ou cadeira?", pergunta a amiga) também não nos soa familiar, embora a mobilidade nos preocupe conforme envelhecemos.

Viajar "livre, leve e solto", com pouca tralha e, de preferência, com um livro ao alcance da mão, isso sim é "maravilhosamente libertador".

Trafegue com suavidade e sem tropeços pelo idioma, onde quer que vá.

Humor da Escolinha

É quase inacreditável que o parágrafo aí da imagem tenha sido escrito por um adulto.

Por onde começar a comentar essa coisa horrorosa do Globo online, enviada pela assídua colaboradora?

Pela vírgula que separa o sujeito do predicado ou pela que não está onde devia?

Pelo primeiro "após" ridículo e seu cacófato ("após polícia") ou pelo segundo?

Acho que vou encarnar aquele velho personagem do saudoso Francisco Milani, o Saraiva, famoso pela tolerância zero com perguntas idiotas.

Perguntem-se: os policias teriam ido ao local ANTES das denúncias ou teriam encontrado alguém ANTES das buscas? Pois é, parece piada, mas não é.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Não dê voltas no texto

Por que os colegas têm tanta dificuldade para escrever na ordem direta?

Dia desses, um leitor achou que eu estava sendo muito exigente, que, lendo direitinho, não havia dubiedade, dava pra entender...

Só que o texto jornalístico precisa ser claro e objetivo

Quem para numa banca e passa o olho numa manchete, por exemplo, deve compreender a mensagem num átimo, não tem que seguir caminho com dúvidas sobre o que leu.

Vejam dois exemplos da Escola Matemática de Imprensa, que ensina: "a ordem dos fatores não altera o produto".

A teoria é inaplicável quando se trata do Português, como se nota no destaque da revista Época, enviado pelo atento amigo.

Do jeito que a frase está, parece que a corrupção (motivo do protesto) existe apenas na Avenida Paulista, não em todo o país. 

Opções: "Na Avenida Paulista, manifestantes protestam contra a corrupção"; "Manifestantes lotam a Avenida Paulista em protesto contra a corrupção" (estou tentando usar as mesmas palavras, ou as variações seriam infinitas).

No Globo online, a assídua colaboradora encontrou bobagem semelhante.

Que tal "Há oito anos espero que a justiça seja feita", editores?

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Prurido de menina-moça


Está mais do que na hora de "o maior jornal do país" parar com esses pudores bobos de sinhazinhas e moçoilas de antanho.

"Colocar responsabilidade" (ui!) em espírito ou em alguém de carne e osso é saca... (ops, desculpa aí) é muito feio!

O medo de usar os verbos PÔR e BOTAR deve vir dos tempos do Irineu Marinho, só pode.

Ainda não perceberam o tanto de coisa ridícula que nasce dessa fobia? 

Perguntem à galinha se ela "coloca" ovo.

Provas rijas, vibrantes

Não importa o tamanho (ou a robustez?) da bobagem: se os colegas que desconhecem o idioma acharem a palavra bonita, pode contar que vão usá-la à exaustão.

Um amigo dos bons e velhos tempos do Globo comentou a nova modinha dos tolos e eu fui conferir.

Está aí na imagem a prova (pura e simples) de que a "prova robusta", sarada, malhada nas academias existe na imprensa, potente como se fosse um touro, rija como se fosse uma tora de madeira, vibrante como grito de bebê com dor.

Jovens jornalistas, não empaquem em certos vocábulos, sejam eles lindos ou horrorosos.

Também não troquem o "robusto" por "vetusto" (!), como outro ex-colega de redação ouviu dia desses.

Teria a tal prova, de tão velha, alcançado respeitabilidade?

Já estou até vendo a cena no tribunal:

"Senhoras e senhores do júri, a venerável prova..."

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Treinamento e castração, gente?!

Achado sensacional do amigo que ama as Letras e lê a Folha.

Veio com comentário irônico, é claro:
"Parece que agora o supermercado terá funcionários eunucos".

Tive que rir — mas não a ponto não de não ver o onipresente "após", a estranha "parceria 'por' (?)"...

Só merece aplauso o título, com o adequadíssimo PRA — que O Globo, antiquado "para" cachorro, se recusa a usar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Releia antes de publicar

Como tudo que está ruim pode ficar ainda pior, seguem mais dois exemplos de Português mal escrito.

Um é do (já não tão) eventual colaborador e está no jornal mais importante de Goiás; o outro,  enviado ontem por uma querida amiga, foi pescado no "maior jornal do país".

Nem sei o que dizer do "dinheiro apreendido" encontrado pela polícia. Não é ela que apreende dinheiro, drogas etc.?

E o que motiva tanta repetição, minha gente?

"Está, estava", "passou, mas passa"... Ô trem!

Só pra lembrar, ali no cantinho: mais de uma pessoa COLABOROU? Então, Fulana e Beltrana COLABORARAM.

O bom, o mau e o feio

Milagre! O atento amigo conseguiu encontrar um "após" que tem função na frase e, como ele diz, é quase insubstituível.

Notem como faz sentido explicar que o artista plástico Gonçalo Ivo vai publicar poemas inéditos do pai, seis anos DEPOIS de sua morte.

Já no triste caso abaixo, é óbvio que Arthur Maia morreu "após" um monte de coisas: nascer, viver 50 e poucos anos, fazer sucesso, gravar discos etc. Arthur teve um infarto. Ponto.

E o que são essas "causa e consequência", como brinca o amigo: "Sobrinho de Fulano, contrabaixista morreu"?

Colegas do Globo, experimentem ir direto ao ponto:

"Contrabaixista carioca sofreu um infarto e morreu ontem, em Niterói".

Se fizerem questão de incluir a menção ao tio, usem entre vírgulas, DEPOIS de "contrabaixista carioca", OK?

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

É diplomação ou é dívida?

O colaborador eventual ficou besta com a "saldação" inventada pelo Globo.

Colegas, mais atenção, por favor.

SALDAR quer dizer acertar contas, pagar o SALDO.

SAUDAR é cumprimentar, louvar, fazer uma SAUDAÇÃO.

Não há um Houaiss ou Aurélio eletrônico na redação?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O ensino vai mal, muito mal




A qualidade do ensino está tão ruim (ou ), que até o FHC fez MAU uso do Português em postagem no Twitter, como vi em algumas páginas, com destaque e dicas para evitar a bobagem.

O sociólogo, ex-presidente etc. diz que "diariamente há pessoas acusadas de mal uso do dinheiro público".

Alguém por aí faz "bem" uso do dinheiro que tem?

Se faz BOM uso, é porque não faz MAU uso; se está BEM de grana, não está MAL de vida.

Mas, como eu dizia, o ensino vai MAL — e em todas as matérias, a julgar pela Geografia da Folha, que um amigo mandou pra mim. (vide imagem)

Ele reclamou e parece que funcionou: o jornal já corrigiu a besteira e botou o México na América certa, a do Norte.

O "após" — esse trambolho desnecessário sem o qual o Novíssimo Jornalismo não sabe viver — eu aposto que ainda está lá.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Coitado do padre!

Confesso que não me lembro se a incrível notícia da Folha rodou pela internet com comentários irônicos, pois é de quarta-feira.

Como ela chegou a mim há pouco, enviada por uma fiel leitora, e continua no site do jornal, intocada, publico aqui.

Fome e sono batem à minha porta, mas não dá pra passar batido pelo pobre padre enterrado com o atirador — a música até dá pra imaginar, mas  não entendi como o pedido de perdão também foi parar na tumba.

Obs.: a marquinha no subtítulo deve-se à economia de artigo, inexplicável com esse tantão de espaço sobrando aí.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

De escrita e relevância

O que está pior na chamada do Globo online: o jeitinho de escrever ou o fato em si?

A assídua colaboradora se espantou com o uso de parênteses no título (dentro do texto é comum, não é?).

Eu me espantei ainda mais com o que está entre os parênteses: queriam que o cara se entregasse aos braços de Morfeu, por exemplo? Isto seria notícia?

E desde quando é notícia advogados de defesa recorrerem de uma sentença? Não é o trabalho deles? Até a defensoria pública recorreria.

As bobagens nossas de cada dia

Jornalistas veteranos e outros amigos que amam o idioma pátrio têm reclamado de vários cacoetes, encontrados diariamente na imprensa escrita, falada e televisada, como diria Odorico Paraguaçu.

Um deles implica com o abuso da expressão "cães farejadores", provavelmente porque o adjetivo foi dicionarizado há pouco tempo e porque, a não ser que sofra de algum mal, todo cachorro tem faro.

Eu implico é com modismo e falta de variedade mesmo. 

Que tal usar também cães treinados? Afinal, há cachorros com treinamentos distintos — para detetar drogas, cadáveres, explosivos, sobreviventes em desabamentos etc. etc. 

Por que não especificar ou dizer, apenas, que policiais contaram com a ajuda de cães na tarefa da vez? Ou não está implícito que eles são treinados?

Outro me conta que repórteres de rádio e TV não se responsabilizam por nada. 

Explico: os colegas não "veem" mais, só "percebem". É um tal de "é possível perceber isso" e "dá pra perceber aquilo", que a gente logo percebe que falta firmeza à informação.

Passando ao esporte, quem aí já está cansado de ouvir que "o lance favorece AO time" X ou Y?

Pois é.

Narradores e comentaristas, deem uma olhadinha no verbete FAVORECER, copiado do Houaiss e reproduzido aí no quadro, e procurem uma acepção em que ele figure como transitivo indireto. Duvido que alguém ache.

Editor não vê nem os títulos?

Ao que parece, foi-se o tempo em que os editores cuidavam do produto final e davam uma geral pelo menos nos títulos — especialmente nas manchetes de primeira página.

Pois ontem o atento amigo encontrou três "após" na capa do Globo, como esse em destaque na imagem, a obviedade de sempre.

Quando os colegas vão entender que TUDO, absolutamente TUDO acontece DEPOIS de alguma ação? Por que o penduricalho bobão, símbolo de ignorância em Português, Física, vida etc., tem que entrar em todo canto?

O amigo também não aguenta mais a mania da pontuação desnecessária. Mandou o exemplo da "solidariedade", com o seguinte comentário:

"O 'FAZ' que se conecta a 'PONTO' perde o sentido de continuidade, repetição, permanência, fica estropiado. Por que não 'Solidariedade faz ponto todo dia na Avenida Brasil', sem vírgulas e sem o artigo, que também está sobrando?"

Concordo em gênero, número, grau e... Pra não dizer que não falei de outro jornal, tem obviedade no JB também, mui apropriadamente batizada pela assídua colaboradora de "campeã do troféu Pleonasmo do Ano".

A garotada não sabe que, entre outras coisas, PODER significa DOMÍNIO?

"Sob o domínio do domínio" é forte, não é, não?

Um erro entre muitos cometidos

O Globo é uma fonte inesgotável para este blog, lamentavelmente.

Estou colecionando pérolas enviadas pela assídua colaboradora desde ontem, a maioria batidíssima aqui.

Tem frase desconjuntada — "serei a filha que meu pai não gostaria". Ponto.

Não gostaria o quê? Cadê o resto pra fazer sentido? "Não gostaria que eu fosse", talvez?

Tem um festival de "após" absurdo — "após incêndio, museu (...)"; "milionário após garimpo" — e um absurdo ainda maior:

"(...) pacientes ficam sem remédios e até comida".

"ATÉ" comida, pessoal?!? Lê isso em voz alta e me diz com sinceridade: não achou esquisito, não? Nem um pouquinho?

Pra completar, as "concordâncias lindas" viraram moda.

Como ontem comentei caso quase idêntico, vou passar batido pelo "primor" "a maior parte coincidem" (ui!) e ir direto para esta aqui, que ninguém tem acertado nos últimos tempos:

"A holandesa (Fulana de Tal) foi uma das que mostrou o rosto (...)".

Nananinanão, crianças.

A holandesa mostrou o rosto, outras vítimas mostraram o rosto. Portanto, a holandesa foi UMA ENTRE AS VÁRIAS VÍTIMAS QUE MOSTRARAM o rosto.

Será que consegui ser clara? Tem quadrinho pra ajudar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O médium e a mídia


Uma ex-colega de redação encontrou a seguinte frase na Folha:

"(ele) chegou SOB IMPRENSA e palmas dos fiéis". (sic, com destaque meu)

Teria o cara chegado à cena debaixo de jornais, para se proteger ou disfarçar?

A amiga não gosta de acentuação em vocábulo copiado do Latim, mas o médium — que foi dicionarizado assim em Português — também mereceu matéria no Globo.

Na versão impressa, a assídua colaboradora encontrou coisas como a expressão "braço direito" com hífen (procurem no Volp, crianças! Se acharem, dou um doce) e um pequeníssimo parágrafo no qual conseguiram enfiar três vezes a palavra "emocionalmente" (uau!).

Meninada, a não ser que ressaltar os erros do interlocutor seja intencional (e as aspas e outros recursos estão aí para enfatizar isso), é dever do jornalista melhorar a fala do entrevistado e fazer um textinho decente, OK?

Palavras que preferimos não usar

Nesta terça-feira, troquei ideias com duas amigas a respeito de coisas cada vez mais comuns nos textos jornalísticos que nos incomodam sobremaneira.

Uma delas reclama do uso de verbo "gravar" quando se trata de cinema.

Sabemos que as imagens ficarão gravadas na película, mas, de fato, "gravar" combina mais com disco, vídeo, novela, programa de TV, CD, DVD...

Em tempo: o papo começou por causa de uma nota no Ancelmo Sempre Ele Gois, em que ninguém mais filma, só grava.

Com a assídua colaboradora, o tema foi uma das novas manias do Globo: "a maioria das pessoas fizeram (...)".

Há quem ache normalíssimo, mas incomoda nossos olhos e ouvidos, pois aprendemos que "a maioria faz" (ou não faz, problema dela).

Pra fechar o dia, o atento amigo mandou exemplo de outra coisa altamente incomodativa: a troca do bom e confiável verbo "TER" por "possuir", de conotações muito diferentes em vários casos.

Vejam o cartaz que ele fotografou. Quando foi que o Metrô Rio COMPROU essa gente toda? A empresa tem escritura de posse lavrada em cartório pra comprovar que é mesmo proprietária desses mais de 900 funcionários?

domingo, 9 de dezembro de 2018

As invencionices não têm fim




Alguém consegue me explicar o título aí da imagem, encontrado pela assídua colaboradora na Folha?

Que diabo de regência é essa, "há uma demonização DE QUE (...)"?!?

Demonização é "ato ou efeito de demonizar (ou demonizar-se)".

Uma pessoa pode "demonizar-se" ou "demonizar alguém" — "de que alguém", nunca vimos.

 Acho que só chamando o padre Merrin pra exorcizar.

Onde fica Política?

Pensaram que o besteirol de sexta do Ancelmo Sempre Ele Gois tinha acabado? Não contavam com o atento amigo.

Vejam só a gracinha que ele achou lá: uma "política ONDE", como se "política" fosse o nome de uma cidade, um bairro, uma boate, sei lá.

O que sabemos é que ONDE é advérbio de LUGAR.

Então me digam, crianças, ONDE vocês encontraram e/ou aprenderam a palavra e seu uso? ONDE estava o chefe que não corrigiu a bobagem?

Repitam cem vezes: "a política NA QUAL (ou EM QUE) o sujeito da frase começou a carreira (...)".

sábado, 8 de dezembro de 2018

A descrição da discrição

Em mais uma encontrada pela assídua colaboradora no Ancelmo Sempre Ele Gois, os colegas mostram desconhecer a diferença entre "DESCRIÇÃO" e "DISCRIÇÃO".

A nota chama-se "O mistério do Hotel Windsor", onde se hospedaram os participantes de um daqueles programas de TV que se dizem "reais", mas de "realidade" não têm nada, pois são engessados num roteiro sempre idêntico.

Mas o que interessa é a "linda" frase:

"Para manter a descrição, a equipe reservou um andar inteiro (...)".

Nananinanão, crianças.

O titular da coluna não ensinou a vocês que DESCREVER é uma coisa e ser DISCRETO é outra? Fiz um quadrinho pra ajudar, tá?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Quem lê jornal sabe mais e...

Alguém se lembra desse slogan do Globo: "Quem lê jornal sabe mais"?

Do jeito que a coisa anda por lá, ocorre-me perguntar: quem faz o jornal devia saber mais ainda, não?

Na madrugada, um colega mandou mais exemplos de verbos mal conjugados.

Comparando com a matéria reproduzida ontem aqui, noto uma tendência no ar: o uso do futuro do pretérito no lugar do muito mais confiável PRESENTE.

Vocês "poderiam" confirmar o modismo pra mim, por favor?

Quanto ao título aí da imagem, enviado pela amiga revisora, quero saber o que motivou o "em Aterro, Lagoa e Méier".

O aterro não é qualquer um, é o do Flamengo, assim como a lagoa não é genérica, é a Rodrigo de Freitas.

E ninguém vive EM Méier, ou nasce EM Méier.

Então, o editor ignora que o programa existe NO Aterro, NA Lagoa e NO Méier, ou teve preguiça de cortar umas palavrinhas na frase pra abrir espaço?

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Conversa pra jornalista chorar


A querida e assídua colaboradora achou essa coisa no Globo online e, delicadíssima, destacou um trecho e o classificou de "bestialógico".

Gente, a matéria INTEIRA é um bestialógico, nem sei por onde começar.

É um tal de "interior da loja", "interior do imóvel", ou "do estabelecimento onde são comercializadas roupas femininas"; informação dos bombeiros e bombeiros que informam até não poder mais (às vezes substituídos por "testemunhas" ou pela "Polícia Militar"); fratura exposta (ou não) e "manequim expostos" (sic); frases sem pé nem cabeça; acentuação e pontuação absolutamente enlouquecidas...

(pausa para tomar fôlego)

Há "ferimentos intermediários" (?!) e uma mulher "com o quadro leve" (deve ter deixado a moldura em casa); o guardador que "teria perdido o controle DO VEÍCULO ao manobrar O AUTOMÓVEL" (do que mais seria?); verbos conjugados em tantos tempos que é difícil saber o que aconteceu, o que teria acontecido, o que ainda acontecerá (a começar pelo título, em desacordo com o subtítulo)...

Só mesmo lendo para acreditar.

"Na ocasião", "ainda" ("além também") há uma sugestão — "ouça este conteúdo" (ui!) — e os "comentários dos internautas".


Já estou fazendo piada, porque ninguém merece essa redação de Jardim de Infância, editada por gente bem grandinha, alfabetizada no tempo do trema.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Morte por antecipação

A assídua colaboradora achou mais besteira no Globo de hoje.

Os colegas põem crase onde não há — "rechaçou A bala", por favor, pois aí só tem preposição, sem artigo, como em "rechaçou A tiros".

E não põem a dita cuja onde há — "de volta À câmara", com preposição e artigo, como em "de volta AO lar", "de volta AO aconchego" etc.

Pra arrematar, claro, temos um absolutamente dispensável "depois", variação do maldito "após".

Perguntar não ofende: havia chance de o general ser encontrado morto ANTES de dar um tiro na cabeça?

A bígama e outros casos

Na sexta-feira, um colega me enviou o caso de "bigamia" que mais parece um problema de matemática — e mostra como o descuido com a língua pode transformar tragédia em piada.

A história é mais ou menos assim: três pessoas foram socorridas, um casal foi enviado a um hospital, a mulher DOS DOIS pacientes teve queimaduras.

Pergunta: onde estava a cabeça do repórter quando escreveu o texto?

Assim como tem jornalista inventando bígamos por aí, há quem veja "regências unicórnicas" no idioma pátrio.

O campeão de delírios é O Globo, como constata a assídua colaboradora, nesse "privilégio AO", que inexiste.

Vemos privilégios DOS políticos, temos o privilégio DE saber Português e privilegiamos A leitura e OS estudos, para evitar bobagens na escrita.

Como a frase "restitua cofres públicos com verba", que o atento amigo quer saber o que significa.

Alguém aí tem ideia? Precisamos de ajuda pra traduzir.