terça-feira, 30 de abril de 2013

Gordura reafirmada

O que falta inventarem nessas propagandas horrorosas de televendas de aparelhos de ginástica e duvidosos produtos rejuvenescedores e emagrecedores?

Ah-ha! Pensaram que a criatividade dos caras tinha acabado? Pois agora estão anunciando um creme de veneno de cobra, acreditem!

Como se não bastasse, ele vem acompanhado de outro, "reafirmante", para o corpo. Provavelmente, para "confirmar", "afirmar de novo e de maneira mais categórica" a sua celulite.

Apertem os cintos... o editor sumiu!


O que houve hoje com o RJ-TV?

Foi um tal de "o preso pode ser preso"; "a decisão da PM, que decidiu"; a "vítima fatal" (de um atropelamento, este sim fatal, porque a vítima, que eu saiba, não matou ninguém)...

Teve até um sensacional "o lixo não passa na rua deles", ou seja, uma notícia e tanto, pois isso só pode ser um milagre da nossa comumente péssima limpeza urbana.

domingo, 28 de abril de 2013

Revista com excesso de ar

A matéria da modernização da revista dominical do Globo, que "ganha ar mais arejado a partir do próximo domingo", estimulou minha imaginação.

Se arejar é "fazer circular o ar", "expor-se ao ar" etc., alguém me explica como será essa manobra de jogar "um ar" sobre "outro"?

Aliás, a bobagem me fez lembrar do colega que, já irritado com o editor, que lhe pedia uma "página mais arejada", fez vários furos no diagrama com o lápis, antes de perguntar: "Agora está bem arejada?"

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Português do lado de fora

Falando em "bola fora", o mesmo amigo anda incomodado com nova mania dos colegas:

"É um tal de o cara foi encontrado no interior do porta-malas (como se pudesse ser encontrado no exterior do porta-malas), estava no interior de sua residência (como se fosse necessário descrever que poderia estar no exterior da casa etc etc."

No noticiário das bombas em Boston, ele encontrou no Globo, há uns dois dias, que o suspeito foi preso "no interior do barco". E pergunta, indignado, com toda razão:

"Ora, se estivesse no exterior do barco, ele estaria nadando ou se afogando. Estaria eu enlouquecendo com tanto desvario?"

Não, caro amigo. Nossos colegas é que andam delirando um bocado.

Melhor repetir do que errar

O amigo leu a besteira no Globo online e mandou pra mim:

"Caso Bruno: juíza proíbe advogado de Bola a continuar interrogando testemunha".


O que ele acha que ocorreu para inventarem esse "proíbe a continuar", que não existe? Resposta: "Alguém deve ter dito pro redator que não seria legal repetir preposições muito próximas umas das outras — 'proíbe advogado DE Fulano DE falar'. Aí, ele preferiu ferrar com a regência."

Pois é, gente, ser "mais bonitinho" não funciona pra tudo.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O que vem a ser isso, doutora?

"Roubada" da página (do Facebook) de uma amiga, que me informa que isto é a explicação da presidente para a tal "invenção" que será usada na Copa:

"(...) O Carlinhos Brown nos encanta porque ele combina aí a imagem, essa imagem lá, verde e amarela da caxirola, esse fato que nós estamos falando de um plástico verde, de um país que tem a liderança da sustentabilidade no mundo e ao mesmo tempo é um objeto capaz de fazer duas coisas: de combinar a imagem com som e nos levar a gols."

Gente, não dá nem pra começar a analisar um texto desses. Vai pra categoria hors concours.

É muita complexidade!

Essa mania de usar — e inventar — polissílabos para simular erudição ou tornar o texto "mais bonito" já está enchendo as medidas.

Hoje, na matéria (não na crítica) do filme "Homem de Ferro 3", no Globo, o inexistente verbo "complexificar" apareceu outra vez.

Temendo que vire praga, peço aos colegas que consultem um dicionário antes de criar monstrengos.
 
Quer parecer inteligente? Use "complexar", que está registrado no Aurélio, no Houaiss etc. etc.

Intensa exaustão

Esta veio por e-mail e foi encontrada por um amigo num jornal de Natal:

"(...) conversou por alguns minutos com os bandidos, que estavam armados com paus e começaram a agredir a vítima de maneira intensa."

Custava ficar no básico? Que tal "violentamente"? Não basta? Tem que ser "intenso" como, digamos, o calor do Rio? A criatividade é tão "intensa" que fico exaurida!

terça-feira, 23 de abril de 2013

De vítima a criminoso

A Rede Globo ressuscitou (no RJ-TV) as "vítimas fatais", que pareciam há muito enterradas!

Gente, vítima que é vítima mesmo fica lá quietinha, morta ou ferida, não sai matando ninguém!

Fatal é aquilo (ou aquele) que mata e, portanto, faz a vítima. Esta, apenas sofre as consequências — inclusive dos golpes letais à Língua Portuguesa.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Português golpeado e acidentado

Duas rápidas, que foram enviadas pelo mesmo amigo e ficaram aqui nos meus e-mails, esperando eu voltar da rua.

O "primor" número 1 ele achou no Uol e batizou de "eufemistas":

"Os golpes foram todos direcionados à sua cabeça."

Se fosse uma cena à la Guilherme Tell, com um cara equilibrando uma maçã no cocoruto e vários arqueiros mirando a dita cuja, até dava pra entender. Será que eles acham que isso é "falar bonito"?!?

O "primor" número 2 é este título do Globo:

"Acidente no Recreio termina com um morto".

O ex-colega de redação já vinha reclamando da nova mania de as pessoas morrerem "durante" capotagens e coisas do gênero. Agora, ficou ainda mais bestificado: "Este acidente deve ter ocorrido em câmera lenta. Teve início, meio e fim."

O que é isso, pessoal? Deu até pra ouvir o locutor de futebol gritando: "Terminou a batida!!!"

domingo, 21 de abril de 2013

Previna acidentes com a língua

Alguém pode me explicar o que a palavra "contra" está fazendo neste subtítulo da página de Saúde do Globo?

"Sono adequado previne contra doenças (...)". 

Não precisa ler mais nada, só um dicionário. 

Está lá, no verbo "prevenir":
1 dispor com antecipação (as coisas) de modo que se evite mal ou dano; impedir <p. os danos da seca construindo açudes> 2 impedir que se execute ou que aconteça; frustrar <p. acidentes> 3 tomar medidas que evitem (algo), com antecipação; evitar <p. doenças, epidemias> (...)~

E por aí vamos, sem encontrar nenhum "contra" no verbete.

sábado, 20 de abril de 2013

Idioma vai a leilão

Esta é fresquinha, acaba de chegar por e-mail. 

Reproduzo o texto da amiga jornalista, que dispensa acréscimos:

"Você leu, anteontem, no Segundo Caderno do Globo, que um importante quadro foi arrebatado em um leilão? A leitura do jornal é, a cada dia, mais 'arrematadora'..."

sexta-feira, 19 de abril de 2013

É a última que morre...

A nota grande, ilustrada, do Ancelmo (no Globo de hoje) termina com a frase: "Tenho esperança que outros documentos (...)".

Só que a gente pode esperar alguma coisa (ou alguém), mas tem esperança de que alguma coisa aconteça (ou de que alguém apareça).

O que deixou de ser

Deixa eu ver se entendi. Está na nota “Atacando in loco”, da coluna Gente Boa:

(...) Ex-morador da cidade nos anos 90, ele teve a casa pichada com ameaças de morte”.

Então, na década de 1990, o cara já não morava mais em Nova Iguaçu e sua casa, abandonada, foi pichada?

Se não é isso, o que o “ex” está fazendo aí?

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pequena, média ou grande?


Encontrei no blog de seriados da Veja um erro que eu não via há algum tempo (será que ando distraída?):
 
Ainda sem data de estreia na Austrália (...), quarta temporada da série ganha seu primeiro trailer. (...) Maiores informações sobre a produção aqui.” (sic)
 
E as menores, onde podemos encontrar? Alguém por aí tem informações em tamanhos variados, do P ao GG?
 
Se quiser mais informações a respeito da nossa língua, leia aqui.

Não estraguem nossa comida!

 

Como boa “mineira nascida no Rio”, como diria uma grande amiga, fiquei interessada na matéria do Zona Sul que tratava da culinária que marcou minha vida.

Como boa mineira, também, comecei a ficar desconfiada já na chamada, na contracapa, porque uma inocente vírgula dava a entender que todas as receitas de Minas estariam no caderno do Globo:
 
As receitas mineiras, que são passadas de geração em geração” (precisava?).
 
Como boa mineira (e brasileira), fiquei injuriada ao ler que a nossa comida tem “sabor homemade”.
 
Que trem é esse? A minha tem gostinho caseiro mesmo, sô!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Apartamentos jogados na rua


Outra amiga mandou um titulaço da Folha de São Paulo — "Senado vai desalojar apartamentos funcionais para repassá-los a senadores" — e pergunta, indignada: “Como assim? Vão desalojar os apartamentos?!?”

Tem toda razão a veterana jornalista, que aponta o verbo correto a ser usado: “desocupar”.
 

Eu, daqui, fiquei imaginando como ficariam as ruas cheias de apartamentos atirados ali, na sarjeta, sem dó. E tem foto dos pobrezinhos. São esses aí, ó.

Quem é que aguenta?

Reproduzo aqui (com alguns comentários entre parênteses) o desabafo de um colega, que não aguenta mais ouvir tanta besteira dos jornalistas da República Federativa do Bobajal:

"Não, coleguinhas, o trânsito não 'segue parado' (aliás, ou para ou segue, não é?). Nem quem ganha mais que você ê 'melhor pago' (o correto é 'mais bem'). E algo sempre acontecer 'por conta' de outra não é errado, mas chato para car*lho. Não sabe usar 'por causa'? (isso já foi tema de muita reclamação aqui. Já estou por conta com o abuso!).
 
E, sim, é eu 'tinha pagado', mas a conta 'foi paga' (outra confusão já comentada no blog). E, por favor, 'customizar' só se cria nas boquinhas bobas ou se você for um anglófilo bilíngue confundindo as línguas — nem no VOLP consta. Se você não entendeu esta última referência, corte logo essa palavra do seu vocabulário." 

Eu ainda complementaria: prefira sempre "personalizar" ("customizar" é feio pra burro!) e não disfarce seu pouco conhecimento da Língua Portuguesa "adaptando" palavras de outro idioma. Use termos estrangeiros apenas quando não houver correspondente em Português. O abuso dá mais a ideia de que lhe faltam cultura e traquejo do que de que você é "descolado".

terça-feira, 16 de abril de 2013

Dá pra confiar?

Mais uma pescada por um amigo jornalista, perpetrada pela senhora Graça Foster, em entrevista à Band:

 "Eu fico atenta ao performar da obra..."

De onde ela tirou essa coisa que não existe em Português, não me perguntem, mas deve ser por causa dessa criatividade exacerbada que a Petrobras vai tão bem.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pobre regência verbal

Tinha dado uma pausa no computador (para xingar as mudanças do sempre novidadeiro Facebook), mas um amigo mandou esta por e-mail:

"Acho que perdemos a guerra. Está no noticiário do Globo on-line, sobre a explosão na maratona de Boston: 'A polícia local pede para que todos que tenham filmado o momento da explosão entrem em contato, para buscar pistas'."
 
Fazer o quê? Pedir a algum editor que dê pistas aos colegas das normas do bom Português? Será que funciona ou é pedir muito?

Idioma com 'pés de barro'

Não faz muito tempo, comentei aqui que, do jeito que as coisas vão, o Globo ainda ia usar “ídala” — bordão de algum personagem que se popularizou.

Pois não é que hoje chegou perto?

Na coluna Gente Boa (sem sic, aspas ou qualquer outro recurso que indicasse que a expressão foi usada pela entrevistada, mas não existe no nosso idioma), apareceu um “minha ídola”, em relação à saudosa Sarita Montiel.

Pessoal, ídolo não tem feminino, OK? Mesmo quando o ídolo é uma mulher.

sábado, 13 de abril de 2013

Carrinho mais que esperto

Chego de uma feijoada deliciosa e me lembro que deixei aqui anotada uma bobagem que ouvi no "JH", antes de sair.
A matéria tratava de um carro que dispensa motorista, pode ser dirigido por controle remoto e, mais sensacional ainda, remove da pista qualquer buraco, lombada, cavalete, cone, veículo enguiçado...
 
Bom, pelo menos é o que se entende ao ouvir que "os obstáculos que ele precisa desviar" não são problema.
 
Pois é. A falta da preposição "de" faz toda a diferença.
 
Pense na sua sala: se você desviar "o" sofá, significa que o mudou de lugar; se você “se” desviar "do" sofá, quer dizer que evitou dar um encontrão no móvel.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Haja imaginação!

Gente, o pobre Edwards não consegue descansar em paz!

Dando uma olhada no Globo que não tive tempo de ler ontem, descubro, na primeira página, que ele é o “pai da proveta” (deve ter sido um parto difícil!) e que se chama Richard (a notícia do Último Segundo, citada em nota de ontem, dizia Robert).

Lá dentro, o segundo parágrafo do obituário abre com:

Junto do cientista (Fulano), foi precursor (...)”.

Dá impressão de que os dois ficavam perto um do outro no laboratório, lado a lado. Também vem à mente “eu e você, você e eu, juntinhos!”, na voz de Tim Maia. Não era preferível dizer “Com o cientista Fulano” ou “Juntos, ele e o cientista Beltrano (...)”?

PS rápido: dentro do texto do jornal está Robert Geoffrey Edwards. De onde surgiu o Richard do titulo?

Entrou pra fora?!?


O amigo vai me matar, mas não posso deixar de comentar a frase (da coluna Pelo Mundo, do Globo): "(Fulano) entra correndo palco afora, atravessando-o de uma extremidade à outra (...)".
 

O problema é que "entrar" não combina com "afora", que quer dizer "para o lado de fora, para o exterior, para fora".
 

E, pelo visto, nem do palco o personagem da história saiu.

Dos males, o menor

O "Hoje" usou o termo e assumiu que é horrível: "desaposentação".

Então, por que não preferir "desaposentadoria", como fez o Globo?

É um pouquinho menos feio, não?

Além disso, alguém diz que recebe (ou vai pedir) "aposentação"? A palavra até existe, mas...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Não há premiação pro editor



Robert Edwards
Passei o dia na rua, não li jornal, não vi televisão, mas, na generosa República Federativa do Bobajal, sempre tem um(a) amigo(a) atento(a) para salvar a pátria (e este blog).

A que me esperava numa mensagem fechada saiu do obituário do pioneiro da fertilização in vitro, publicado no site Último Segundo, do iG. Vejam que espetáculo é este finzinho do texto:
 
Edwards começou suas pesquisas sobre fecundação em meados da década de 1950, e seu trabalho possibilitou o nascimento de 4 milhões de pessoas.
Em 2010, ele foi laureado com o prêmio Nobel de Medicina pelo desenvolvimento da fertilização in vitro. Steptoe já era falescido em 2010 e não há premiação póstuma
.”
 
Tadinho! Morreu com erro de ortografia e em meio a uma história enrolada que envolve outro médico e está mais para arapuca do que para distinção.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Exagero de avaliação

Fui jogar fora o Globo de ontem e bati o olho num boxe que não tinha lido, na página das eleições na Venezuela.

Desculpem o trocadilho, mas... Caracas! Que tanta “avaliação” é essa já no início do texto?

Tem “avalia” pra cá, “avalia” pra lá... Tem até um horroroso “avalia que o discurso (...)”.

O entrevistado, certamente, “acha que” o discurso de Fulano é isso ou aquilo — e avalia alguma coisa ou alguém

Espero não estar presenciando o nascimento de mais um modismo esdrúxulo na República Federativa do Bobajal.

Isto é Grego ou o quê?


Minha nossa, voltou ao Facebook aquele anúncio absurdo:

"57 anos mulher olha 27"

O que vem a ser isso, gente?!?


Nem o tradutor do Google comete um trem desses!!!

Dúvidas femininas

Um querido amigo mandou pra mim este post ao lado, em mensagem fechada do Facebook, com a observação: "Acho que vale pro seu blog."

Então, vamos lá. Se alguém ainda não acertou tudo, seguem as respostas:

1. cabra
2. freira ou monja (frei e monge são a mesma coisa)
3. nora
4. abelha
5. maestrina
6. ermitã ou ermitoa (existe, acreditem!)
7. sultana
8. elefanta (aliá, expressão do Sri Lanka, não serve para a fêmea do tipo africano, só para a indiana)
9.
10. o mesmo que o número 2

Alguma dúvida?

Ipanema sem fim de semana

Juro que não entendi essa.

A nota “Toda de preto”, da coluna Gente Boa, diz que “a mulher de branco de Ipanema apareceu assim (como está no título), no último fim de semana do bairro”.

Como pode isso? Ipanema não vai mais ter sábados e domingos? Foi algum decreto ou o quê?

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ades maçã na veia. Duplo!

O que é isso, gente? Acabo de pegar no Facebook uma postagem (que está como sendo da Agência Brasil, mas vai pro site da Band) que diz:

"Anvisa libera comércio de bebidas da Ades
Agência considerou satisfatórios os esclarecimentos da empresa; No dia 2, a Anvisa proibiu a fabricação dos lote dos alimentos com soja".

Os lote?!? Maiúscula depois de ponto e vírgula? E um texto ruim desses? Manda um Ades maçã de Pouso Alegre no capricho, já!

Em terreno nada familiar


Eu aguento uma coisa dessas? Saio do banho e encontro mais uma pérola perpetrada pelos incansáveis colegas jornalistas e pescada por uma grande amiga e grande atriz.

Como diz o Verissimo à sua Dora Avante, deixemos que ela conte:

"Repórter da Globo, sobre o funeral da Dama de Ferro: 'Segundo um pedido seu, ainda em vida, a cerimônia será apenas para familiares.' Ainda bem, né? Não consigo imaginar a família da velha Thatcher conversando com fantasmas!"

Imediatamente imaginei um bando de britânicos conservadores no meio de um terreiro, fumando charuto de quinta e tomando cachaça. Esconjuro!

PS: essa história de só chamar parente de "familiar" também é forte. Muda o disco, pessoal!

Morte na Capela Sistina

Sabendo que eu estava às voltas com um trabalho volumoso, uma amiga jornalista guardou na gaveta e só hoje me enviou esta pérola — reproduzida ao lado e pescada num caderno especial do Globo, publicado em 12 de março, quando o papa dominava o noticiário de cabo a rabo.

Sob o título "No conclave, uma criação que desafiou a Igreja", encontra-se um transporte que desafia, entre outras coisas, as leis do idioma e do bom senso: um navio que afoga, acreditem! A prova está até assinalada.

Como “afogar” é, antes de tudo, “morrer ou matar(-se) por submersão” ou “impedir de respirar por meio de asfixia ou sufocação”, acho que isso é obra do Stephen King, na linha “Christine, a embarcação assassina”.

Essa é velha


Além de ser coisa do século XIII (de verdade!), o uso da expressão “dentre” raramente ocorre no lugar certo na fala cotidiana.

Agora mesmo ouvi um “dentre seus filmes, destacam-se (...)”, num “What’s on”, programete simpático do Universal Channel (neste, o tema era Martin Scorsese). 

 
Só que a contração das preposições “de” e “entre” significa “do meio de”. Vai me dizer que não fica esquisito dizer “do meio de seus filmes, destacam-se (...)”?

PS: na dúvida, escolha sempre o mais simples (neste caso, o “entre”). Assim, o risco de falar errado ou de parecer antigo é menor.

domingo, 7 de abril de 2013

Pendurado no sinal


Verissimo, João Ubaldo e Aldir Blanc arrasam na página 19 do Globo deste domingo. Bom, nada de extraordinário aí. Ao lado, Dorrit também é sempre certeira na escolha (e abordagem) dos temas, mas hoje deu escorregadela no Português (acontece com os melhores jornalistas).

Na frase “quis o acaso que a própria jovem reconheceu seus agressores”, o pretérito perfeito não cabe. O correto é o pretérito imperfeito: “Quis o acaso que a própria jovem reconhecesse seus agressores”.

Porém, isso é pinto perto da esdrúxula declaração do presidente da Associação da Indústria de Hotéis, em relação ao caso de estupro de uma turista: “Ninguém quer um assalto numa van em Bonsucesso ou no Complexo do Alemão, mas em Copacabana, cartão-postal famoso mundialmente!

“Mas em Copacabana” o quê? Não se espera, não dá pra engolir, não se quer? Qualquer opção que complete a sentença suspensa pela exclamação é absurda, pra dizer o mínimo.

Um porre de pão

Gente, não resisto! Estava num aniversário, cercada de gente querida, quando um amigo dramaturgo, senhor ao mesmo tempo sério e muito doce, lembrou-se do meu blog e me contou uma que ouviu outro dia.
 
Chegou da rua, ligou a TV e viu a cena — dublada — de um filme ou seriado. Num iate, três rapazes levantam os copos e falam, em uníssono: Torrada!
 
Cansado, meu amigo custou um pouco a entender o nonsense do brindetoast, em inglês, como o pão tostado.   

Não dá pra deixar passar uma coisa dessas, pessoal! Será que ninguém se deu conta do absurdo da tradução? Ou já estavam todos tontos no estúdio por excesso de “torradas”?

sábado, 6 de abril de 2013

Alhos e bugalhos

Botei pra gravar no FX o seriado policial “Jo”, com Jean Reno, e, de quebra, veio “no pacote” um episódio de “Uma família da pesada”. Foi nas legendas deste que encontrei, de cara, coisas como “ela não está afim” e “zuada”.

Em primeiro lugar, acho que todos os canais pagos deviam oferecer som original e legendas, como o FX. Não vejo nada dublado, mas também não deixo de perceber os erros de Português (ou de tradução).

Na nossa língua, escreve-se “zoada”, com “o” — o verbo é “zoar”. E quando alguém está “a fim” de alguma coisa (ou com vontade de fazer algo), a expressão fica assim, separadinha. Escrito junto, “afim” vira adjetivo e significa “que tem afinidade, semelhança ou ligação”, OK?

Acordo foi de boa-fé?

Hoje, pelo visto, a gráfica do Globo estava com falta de hífen.

Falando sério, o novo (des)acordo ortográfico bagunçou a cabeça de quem escreve Português.

Por isso, não custa lembrar que, assim como os crimes “a sangue-frio” (vide nota abaixo), a “má-fé” continua sendo praticada com o tracinho de união — e não sem ele, como está em subtítulo da editoria País.

Mate direitinho, por favor

Como meu filho vive elogiando “The walking dead”, que eu não acompanho, quando encontro algum texto a respeito, procuro ler, para ver se me empolgo.
 
Hoje tem um na coluna Controle Remoto, do Globo, que não me animou, mas me fez lembrar que, apesar das múltiplas reformas sofridas pelo nosso idioma, uma coisa não mudou: há séculos, quando se mata alguém “a sangue-frio”, mata-se com hífen. Outras "armas" são opcionais.

PS: a expressão foi título de vários livros, mas custei a encontrar uma capa em que ela estivesse grafada corretamente, para ilustrar esta nota.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Antes do Inglês...

Acabo de ver o anúncio de uma marca de automóvel em que um trio promete dar força ao amigo que tem reunião com cliente estrangeiro, mas não sabe falar Inglês.
 

Antes, acho melhor ensinar Português ao grupo, que sela o "pacto" com a gíria (cheia de erros) "tâmu junto".

A mente e o cérebro

Peguei a página de Ciência do Globo e bateu uma estranheza. O título da matéria principal fala de “pesquisa da mente” e o subtítulo, de “funcionamento e dinâmica do órgão”.

Só que a “mente” não é um “órgão”. Trata-se de um “sistema organizado no ser humano referente ao conjunto de seus processos cognitivos e atividades psicológicas”, ou “parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; espírito, pensamento, entendimento” (vide Houaiss).

Algum tempo depois, vi lá no alto da página, acima da foto do Barack Obama, o antetítulo “A corrida do cérebro” — o que não melhorou nada, nem a tentativa de não repetir a palavra lá embaixo. Minha mente, aliás, voou longe, imaginando essa corrida maluca.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Aconteceu? Virou pretérito

Gente, "baixou” um historiador no “RJ-TV”! Explico: historiadores têm mania de se referir a fatos de antanho como se estivessem acontecendo no momento em que escrevem (ou falam).

Pois agorinha eu ouvi, na matéria daquele caso escabroso da criança assassinada por uma manicure, que esta “quebra” os lápis do menino, “faz” mais isso e “faz” mais aquilo.

Não, pessoal do “RJ”. Infelizmente, ela já “fez” essas e outras coisas piores. O crime “aconteceu”, no passado (ou pretérito perfeito), não está acontecendo enquanto o programa vai ao ar.

Aliás, cada vez tenho visto menos esse noticiário, que está virando uma coisa meio assim, como direi?, muito bate-papo pro meu gosto — o estilo, porém, é diferente daquele usado no “Hoje” na seção de meteorologia, que parece conversa de comadre.