quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Assim vocês me matam...


A moda de meter crase onde ela não existe fez nova vítima hoje, no Globo.

Passei batido por ela, mas o atento ex-colega de redação pegou um "ferido à bala" que doeu!

Tente usar ferido "aos" tiros, ou morta "às" flechadas. Pois é, não dá.
Estão matando o Português "a crase".  

Que plural é esse?


Fiquei intrigada com uma nota da coluna Gente Boa de hoje, a respeito de ameaça de incêndio num cinema.

É que, lá pras tantas, diz o texto: “(...) mas algumas pessoas conseguiram manter a calma, até porque tinham crianças na sala”.

Como assim?!? As pessoas “tinham (portavam, pariam, sei lá) crianças”? Ou “tinha (havia) crianças” na sala?

Acento (e aumento) fora do lugar

A feia manchete do Globo “Gasolina sobe hoje na bomba” tem subtítulo com direito a reticências: “Após a queda da luz...”.
Pra começar, “queda de luz” é apagão, não tem nada a ver com o valor da tarifa — que, a julgar pela assustadora conta que recebi este mês, só deve ter caído no Planalto.

E, pra concluir, o tema remete à reclamação recente de um amigo, de que “o Globo segue o manual do Estadão e manda botar acento indicador de crase em algumas expressões que o dispensam”.

Explico: é que, entre os exemplos citados no e-mail, está o bendito “carro a gasolina”, que ele já encontrou craseado nas duas publicações.
 
Truque simples para não errar: mude o gênero e veja se pede o artigo. Alguém aí já viu algum caminhão movido “ao diesel”?

Que língua é essa?

No momento em que os olhos se voltam para a tragédia em Santa Maria, uma amiga teve os ouvidos incomodados pelo abuso da expressão "veio a óbito", que, diz ela, está sendo muito usada por médicos e autoridades.

Enquanto as suas (dela) preocupações são mais de ordem moral, as minhas ficam no prático terreno do idioma — e se um médico o desconhece, fuja dele, pois sabe-se lá onde e como o indivíduo se diplomou.

A frase com sentido — e sonoramente mais próxima — que consigo imaginar é “Fulano veio a Óbidos”, dita por um morador desta cidade portuguesa, com certeza.

Espero que o tal ridículo e recém-inventado “veio a falecimento” morra logo, juntamente com a ignorância total demonstrada, numa hora já tão triste, em relação ao nosso pobre Português.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Tudo pelo virtual

Às vezes os colegas misturam Português com Matemática, em que, em várias operações, a ordem dos fatores não altera o produto.

Com o idioma é diferente. Tanto que uma amiga levou susto ao ouvir ontem, no "Jornal Nacional", a notícia da mulher que foi presa, sob suspeita de ajudar a filha a se livrar de uma gravidez indesejada.
 

O que a surpreendeu foi a informação de que antes o namorado da moça já teria tomado providências "para fazer o aborto pela internet".

Isso é que é modernidade! Eu aqui pensando que a tal pílula do dia seguinte já era uma maravilha e o pessoal está muito mais à frente, resolvendo "tudo pelo virtual".

É pó, é lama, é o fim do caminho

A mania de fazer trocadilhos e gracinhas nos titulos do Globo não tem muito tempo, mas já encheu.

Hoje, por exemplo, a mesma "história que virou lama" na manchete de capa, "virou pó" na página 8 do jornal. Haja "criatividade"!

Foi aceito por ter aceitado

Hoje, na coluna do Ancelmo, apareceu um "ter aceito" totalmente em desacordo com a regra para os verbos auxiliares usados com aqueles que têm duas formas de particípio. Falei do assunto na nota "Plurais, mas não promíscuos" (clique aqui para ler).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Acentos que fazem a diferença

Ai, nossas reformas... Tiram os acentos diferenciais e a gente é obrigada a ouvir coisas como "(uma casa feita com muito) esméro", em anúncio de loja de material de construção.

Gostaria de entender também por que narguilé (que tem pronúncia com o "ê" fechado na língua de origem, o francês) aqui ganhou um horroroso acento agudo na última sílaba e não um circunflexo. Alguém fala "Nestlé" rimando com "pé"?

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cessão onerosa

Mal liguei a televisão no "RJ-TV" e já ouvi a apresentadora dizer que alguém estava reclamando porque sei lá que outro alguém (ou instituição) "cedeu de graça" alguma coisa. Ou seja, não tive tempo de entender a matéria, mas queria saber se há uma forma de se ceder algo cobrando por isso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Super-heróis capengas

Alguém me explica por que o Homem-Aranha e o Super-Homem perderam o hífen na coluna Gente Boa? Só faltou criarem o Bat Man.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Extra, mas sempre unida

Não tem desculpa para a palavra "extraconjugal" ter saído separada no Globo de hoje, como se fossem duas, na matéria da ex-amante do Renan Calheiros (argh!). Relações extraconjugais são uma pouca-vergonha — com hífen, antes e depois do (des)acordo ortográfico —, mas sempre existiram (juntinhas, sem usar sequer o tracinho).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Falando em anacronismo...

A coluna do Arthur Dapieve de hoje trata de um personagem anacrônico, o França, livreiro que percorria as redações e está se aposentando.

Mas anacronismo mesmo eu encontrei na coluna Controle Remoto, que diz, numa nota:

"(o ator Fulano de Tal) posa com Fanny Ardant, eterna musa de 'A mulher ao lado' e casada com François Truffaut."

Achei que a atriz tivesse sido musa (e mulher) do Truffaut, diretor de "A mulher do lado", morto em 1984.

PS: No mesmo espaço dedicado à TV, há um estranho "(é uma pena que tantos espectadores) tenham sido decepcionados". Por que não dizer que o público "se decepcionou"? Ou alguém acha que pode "ser decepcionado" por alguma coisa?

Exemplo da forma mais correta: O canal frustrou as expectativas dos espectadores, que se decepcionaram com ele.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Estranha escolha

Alguém leu a pequena matéria "Biblioteca Nacional anula prêmio de poesia", hoje, no Globo? Pois está lá a explicação para o cancelamento da premiação dada a uma publicação póstuma da obra de Carlos Drummond de Andrade:

"O resultado foi contestado (...) porque, segundo o edital, a inscrição só poderia ser feita pelo próprio autor ou com sua autorização escrita. No entanto, Drummond morreu em 1987."

Esse "no entanto" chega a ser engraçado. Vai ver o clima de piada deve-se à proximidade do texto com o Gatão de Meia-Idade.

Não mexa com os elementos


O "RJ-TV" abriu com duas matérias policiais e, em questão de minutos, perdi a conta de quantas vezes  a palavra "elementos" foi usada.

Vamos deixar um pouco de lado o horroroso jargão, pessoal? Os principais "elementos" são quatro: fogo, terra, água e ar. O resto é bandido, delinquente, ladrão, homem, mulher etc. etc. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ponto de vista

Eu disse que o Bobajal não para de crescer e... pronto! Chegou mais contribuição, de quem leu a coluna de hoje da Míriam Leitão e encontrou uma "lição de pleonasmo".

Segundo a colega, famosa por sua experiência em Economia, o governo deve "encarar de frente os riscos na área de energia".

Minha amiga, delicadíssima, pergunta: "Não dá para encarar de ladinho?"

Com a tragédia no sangue

As "veias" de Copa (favor não confundir
com as "véias", que perderam o acento)
A amiga estava assistindo ao "Jornal Hoje" e ouviu o apresentador/editor sair-se com essa:

 "(...) os moradores temem por tragédias (...)"

Ficou tão indignada que me escreveu: "Meu Deus, eles querem que as tragédias sejam preservadas, sem que nenhum mal lhes aconteça — a elas, pobres tragédias!!! Eu, de minha parte, temo tragédias — mas, às vezes, temo por alguma coisa. Atualmente, temo pelo bom nome de uma emissora em que o Português anda uma tragédia!"

Como se quisessem confirmar os temores da minha ex-colega de redação, o "JH", em matéria seguinte, usou clichê batidíssimo (e feiíssimo) para falar do metrô de Londres, chamando-o de "uma das veias pulsantes" da cidade: "Já que é assim, usem, ao menos, 'artérias', que conduzem o sangue 'bom', como se aprende no ensino fundamental", lembra minha amiga. Merece trocadilho infame: me tire o "tube".

Que 'colocação' é essa?

Tem colega jornalista que deve achar que as palavras ficam mais e mais chiques de acordo com o número de sílabas. Assim, "pôr" é verbo paupérrimo, "botar" fica apenas um tiquinho melhor, mas "colocar" é lindo! (um must, como diziam as dondocas de ontem.)

Só essa "lógica" justifica a frase da coluna Gente Boa de segunda-feira (guardada pra mais tarde e lida hoje), que diz que "o prédio do Bingo Arpoador (...) vai ser colocado abaixo".

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eureka!

Continuo me descabelando com o
novo Blogger (e com a Net, é claro)
Acho que um dos motivos pelos quais a Net não funciona é o idioma.

Além de não ensinar seus atendentes a evitar o gerundismo (não vou nem falar dos maus modos), a empresa não cuida nem do texto de seu site, onde, entre outros absurdos, há um horroroso "Horário de atendimento: Seg. à Sex das 8h30 às 17h30". (sic)

Quem é que funciona de segunda AO sábado, ou de terça AO domingo?

Aquele que levantar a mão passa a ter o direito de usar a "crase Net".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Para abrir 2013

Isto é mais ou menos como estou com o
novo sistema de upload de fotos do Blogger
Que pombos são uma praga, quase todo mundo sabe (sempre há algum irresponsável que os alimenta). Que pombos (e outras pragas) proliferam na sujeira das metrópoles, idem.

O que eu, pelo menos, desconhecia era o uso do verbo "proliferar" com o "se". Está na chamada do caderno Zona Sul do Globo de hoje:

"Ameaça à saúde pública: pombos se proliferam em praças e praias atraídos por restos de comida (...)."

Como disse uma amiga, quando o verbo é pronominal, eles não usam; quando não é, eles inventam. Acho que confundiram tudo: a raça humana se propagou mundo afora, as pragas se multiplicaram, os pombos se reproduziram, mas nada (ou ninguém) "se prolifera" — de preferência, nem mesmo as besteiras escritas por aí.

Feliz Ano Novo na República Federativa do Bobajal!