sexta-feira, 30 de março de 2012

Ai, meus hífens!

Semana chegando ao fim, pego uma pilha de jornais para dar uma última olhada antes de deixá-la no cestão de recicláveis da lixeira. E eis que um título chama a minha atenção, porque há poucos dias falei justamente dessa confusão provocada pela recente reforma:


Como disse anteriormente, muita gente boa acreditou que, juntamente com o acento agudo em "para", o hífen tivesse ido pro espaço. Ledo (Ivo) engano (desculpem, mas não resisti ao trocadilho). Para comprovar, basta uma consulta ao dicionário eletrônico da própria Academia Brasileira de Letras. Está lá, com todos os tracinhos: para-brisa s.m.; pl. para-brisas.

Terapia de dar nó

Na mesa do profissional, a quiropraxia ajuda a desfazer os nós de nervos e músculos no corpo do paciente. No simpático programa "Estúdio i", deu um nó na língua da apresentadora e de seus convidados.

Primeiro saiu (e foi repetido várias vezes) "quiropata"; depois (idem), "quiropatra". O certo, porém, é quiroprata (como se encontra na web), quiroprático (como registram os dicionários) etc., sempre com o "r" após o "p", não depois do "t", já que sua origem está em "práxis", "prática" (mais "quir(o)", que quer dizer "mão").

Como se tratava do lançamento de um livro já programado para ser exibido e comentado, não dá para entender por que o pessoal não se preparou antes para evitar falar bobagem no ar.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Reforma de enlouquecer


Se uma reforma incomoda muita gente, duas, três reformas incomodam muito mais. Mexem tanto no nosso pobre idioma que hoje sumiram com todos os acentos de "adúltero" e "adúltera" na (sempre ótima) coluna do Verissimo.

Ou seja, adulteraram tudo! As proparoxítonas, até onde eu fui informada, escaparam do último golpe perpretado contra a Língua Portuguesa e, sem acento, "adultero" e "adultera" são flexões (paroxítonas) do verbo "adulterar".

quarta-feira, 28 de março de 2012

A causa e a conta

Um amigo jornalista tem a maior implicância com essa história de substituírem "causa" por "conta". Estou com ele. Afinal, fica no mínimo estranho dizer (como a repórter do "Hoje" há poucos minutos) que alguém "foi internado no hospital por conta de um derrame" (ou enfarte, ou...).

Geralmente, a pessoa é internada por causa de alguma doença. A conta (às vezes até mais dolorosa) vem depois.

Adeus ao Millôr

Como o próprio brincaria, Millôr Fernandes saiu à francesa ("ça vas sans dire"), assim como quem não liga pra nada ("passepartout").

Detalhes: o escritor era do Méier, como o saudoso Chico Nelson, e a arte ao lado é do colega Bruno Liberati.

Pergunte ao Bechara

Logo que o novo (des)acordo ortográfico saiu, muita gente se animou e algumas redações até se apressaram a produzir manuais com o básico da enésima mudança sofrida por nosso maltratado idioma. Um dos motivos da tal animação era a vã ilusão de que o hífen teria sido suprimido das "expressões que, pelo uso, perderam a noção de composição".

Por essa lógica, passaríamos a escrever mandachuva, paraquedas, paralama, parachoque... No entanto, apenas as duas primeiras palavras estão certas pelas novas regras. As outras, perderam o acento, mas não o bendito tracinho separador — da mesma forma que para-sol, para-raio etc.

Ganha um doce quem souber explicar o critério usado por nossos imortais.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Degredo e degradação

Não, o título acima não é de um livro de Jane Austen. Refere-se à confusão feita há pouco pelo apresentador do "Jornal do SBT", que encerrou o noticiário falando dos "degradados" que, séculos atrás, atravessaram o oceano, deram com os costados no Brasil e construíram esta nação.

A ele e a quem interessar possa, segue a explicação

degradado é o que sofre degradação, ou seja, foi danificado, deteriorado, estragado etc.; degredado é aquele que foi desterrado, exilado (como tantos neste país à época da ditadura militar, por exemplo).

Parece pouco, mas uma vogal pode fazer toda a diferença — e doer no ouvido de espectadores que entendem do idioma, caso de uma grande amiga, que me ligou assim que ouviu o disparate.

De jornalista para jornalista

Assim fica difícil! Até o site Comunique-se — que tem como público-alvo o próprio jornalista — perpreta  textos indigentes como este reproduzido abaixo, cuja chamada chegou agorinha:

"Renato Rocha, o Billy, ou Negreti. Baixista do Legião Urbana durante os três primeiros álbuns da banda que chegou a vender mais de 20 milhões de discos. Apesar desse perfil, o músico é morador de rua há cerca de cinco anos, conforme mostrou o ‘Domingo Espetacular’, da TV Record. Na matéria de 17 minutos exibida nesse dia 15, a emissora apresenta alguém que alcançou o sucesso, mas sucumbiu depois de ser expulso do grupo de rock em 1989.

Comandada pela jornalista Isabela Veiga, a reportagem da Record conversou com o músico, que afirmou não ser dependente químico — dizendo que preferia tomar calmantes, o que vai contra o que o próprio infirmou em uma entrevista ao gaúcho Zero Hora em 2002
(...)" (os itálicos são meus.)

Dá vontade de prosseguir a leitura? Para não subir pelas paredes, só mesmo tomando um calmante não químico. Alguém tem um maracujá aí?

Veja, ilustre passageiro

Os responsáveis pelos transportes do Rio estão abusando. Além de terem promovido um nó na vida de quem vai de Copacabana a Botafogo pelo "mergulhão" do Túnel Velho (o colega e vizinho Artur Xexéo foi tocar no assunto e quase é linchado pelos ciclistas, que devem estar achando aquele arremedo de maluco uma maravilha), agora aumentaram o trajeto do metrô sem sequer mexer nas paradas para forjar uma nova linha.

Foi uma amiga jornalista que viu hoje a "obra milagrosa", na estação Praça Onze, em que puseram um painel com a letra da marcha-rancho (de João Roberto Kelly e Chico Anysio) e tascaram lá:

"Esta é a Praça Onze tão querida
Do carnaval à própria vida (...)"

Com a crase, o metrô não para mais apenas no logradouro que é a própria vida do carnaval. A sensacional homenagem faz o trem ir do carnaval até a própria vida, um espanto! Isso é que obra de engenharia!

Redação infantil

Amiga jornalista me envia este texto do G1, indignada com a indigência do Português:

“(...) O instrutor está muito abalado e nós estamos colaborando com a autoridade policial. Não houve falha humana. Ele disse que agarrou a Priscila como podia, com as pernas e com os braços, porque o interesse dele era ir para água. Houve duas decolagens, na primeira, o parapente caiu na rampa, eles voltaram e não sabemos se a Priscila mexeu nos equipamentos que prendem ela. Depois eles voltaram para rampa e eles fizeram uma segunda decolagem. Essa segunda decolagem foi certa. O que ele disse foi que, quando ele decolou, ela estava mais abaixo e percebeu que ela estava escorregando, então agarrou ela. Quando se voa, tem que segurar os comandos do parapente. Ele deixou os comandos soltos para segurar ela”, disse o advogado (...).”

Minha amiga pergunta se hoje os colegas desconhecem o pronome oblíquo. E eu acrescento que esqueceram a regra de ouro de quando estávamos nas redações: devemos copidesque até às falas dos entrevistados, para que estes apareceçam bem na fita, quer dizer, nas páginas.

sábado, 24 de março de 2012

Descuidos da Net

A Net precisa ficar mais atenta ao que põe no ar. Entre outros descuidos, anda relaxada demais com o Português. Um exemplo é esta sinopse do filme "O homem de lugar nenhum", lida há pouco na TV:

"Um homem misterioso e obscuro, faz de tudo para salvar uma menina que está sendo sequestrada por traficantes de drogas."

É isto aí mesmo: pleonástico, com sujeito separado do verbo por vírgula e um personagem que deve fazer milagre — ou um diretor ainda mais espetacular, que condensa a ação no ato do sequestro, sem que este seja jamais concluído. Só mesmo vendo pra crer.

Era uma vez... outra e outra vez

Robert Carlyle: Rumpelstiltskin
Silas Weir Mitchell: ex-lobo mau


Quem não conhece Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Cinderela e Branca de Neve? Estas e muitas outras personagens dos contos de fadas passeiam por bosques, castelos, reinos cheios de magia e pela imaginação das gentes geração após geração.

Contadas e recontadas oralmente, depois escritas e, mais tarde, levadas às telas, as histórias da carochinha são uma fonte inesgotável de inspiração, como se pode ver em séries recentes e filmes que logo chegarão aos cinemas. Clique aqui para saber mais.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Isso é que é encarar!

Diz o Houaiss, a respeito do verbo "encarar": "olhar para a cara de alguém; olhar de frente, nos olhos; acarar".

Assim, vão daqui meus aplausos para a atriz Drica Moraes (aliás, sobrinha de um casal amigo), mas um alerta antitautologia para o autor da frase que incluiu um "encarou de frente" em nota sobre sua volta aos palcos.

Sempre que vê o pleonasmo, uma amiga pergunta, brincalhona: "Como será 'encarar de costas'? 'Enucar'?" Eu diria que, nessa questão, precisamos consultar outra atriz, a do filme "O exorcista", responsável pela única "encarada de costas" que me ocorre no momento.

sábado, 17 de março de 2012

O xis da questão

Só pode ter sido uma bobeada do repórter e do copidesque (se é que esta figura ainda existe nas redações). Apareceu um estranho "X" numa enorme matéria a respeito de uma esplêndida carreira, no Segundo Caderno:

Atenção, pessoal: esplendor, esplendoroso, esplendente, esplendidez etc. ficam lá, em berço esplêndido, no qual "X" não entra.

Combate à homofobia

A mesma TV que exibe nos noticiários (até hoje, infelizmente) agressões contra homossexuais (e outras minorias) é um ótimo veículo para campanhas contra a homofobia (e a violência e o preconceito de forma geral), mesmo em seriados e minisséries.

Como bem diz a música de Milton e Caetano, “qualquer maneira de amar vale a pena”. E toda maneira de ajudar a garantir esse direito valerá. Clique aqui para ler.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quem 'possui' o Linkedin?

Abro meus e-mails e lá está a mensagem do Linkedin: "Solange, uma conexão sua possui um novo emprego."

Como assim? A pessoa comprou um emprego? Sentou-se na vaga e disse daqui eu não saio, daqui ninguém me tira?

Alô, alô, pessoal do Linkedin! Nem sempre "possuir" e "ter" são a mesma coisa. Como bem exemplificou uma amiga, certa vez, a gente tem uma gripe, mas não a possui. Cuidado com esse verbo que às vezes pode ter conotações até sexuais. E, na dúvida, não ceda à tentação de "falar bonito": a escolha mais simples costuma ser a melhor.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Que cruzada é essa?

As cruzadas (que mal se cruzam) Coquetel foram um péssimo substituto para o saudoso Santos Alves, no Globo. Em vez de servirem como uma distração que ajuda a estimular o raciocínio, elas propõem adivinhações e conceitos que, no mínimo, irritam os que, por força do hábito, insistem em fazê-las.

Hoje, por exemplo, está lá um "produto dos desenvolvedores de games". A resposta? "Jogo"! Precisa dizer mais?

Falta copidesque

Será que não há alguém para ler as sinopses que a Net põe no ar? Agora mesmo, diz o serviço, a respeito do filme "Tudo por um segredo", exibido no Max: "Um grupo precisa de dnheiro, armam um plano (...), mas estão longe de ser bem-sucedidos." Além dos erros de concordância, precisava estragar o "segredo" da história?

Só o 502, Globosat HD, é um caso à parte e isenta a Net de culpa por qualquer falha de informação: o canal não fornece a ninguém os horários (ou o conteúdo) de sua programação. Ou seja, está ali para tapar buraco e deixar o público frustrado a cada vez que compra um ótimo produto, como a premiada minissérie "Downton Abbey".

terça-feira, 13 de março de 2012

Caras (de pau e pérola)

Dia de ir ao cabeleireiro (coisa rara) é dia de folhear Caras (novas e antigas) e constatar que a publicação continua um espanto. Basta passar os olhos em umas poucas páginas para encontrar muitas pérolas (também novas e antigas).

No setor antiguidade, por exemplo, muitos famosos (e outros nem tanto) seguem fazendo "planos para o futuro" (quero ver o manchetaço que vão dar no dia em que alguém começar a fazer planos para o passado; isso é que é notícia!).

Num dos exemplares da revista em que família virou "clã" e "chic", profissão, há chamada de um brinde sensacional: "support pour petites molheiras"! Será que o pessoal tem problemas com as saucières ou com o nosso idioma? Ou a redação é dividida entre um francês e um brasileiro? Afinal, às vezes encontra-se "chique" escrito em português.

Fica difícil insistir em alguma leitura, mas bem que fiz um esforço ao ver um título anunciando a "história de superações" do ator Lázaro Ramos, só para descobrir que se tratava de propaganda enganosa: o "petit texto" não contava nada a respeito do assunto.

sábado, 10 de março de 2012

No hipódromo, sem glamour

Um elenco de veteranos de primeira grandeza — a começar pelo protagonista, Dustin Hoffman (na foto, com Dennis Farina) — e uma história escrita com a força de quem viveu dramas muito próximos aos exibidos na tela. Estes são talvez os principais motivos para se ver “Luck”, mesmo que não se entenda nada, ou quase nada, de corridas de cavalos e de seus bastidores. Clique aqui para ler.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tropeços de uma tarde de verão

Acho simpática a dupla de apresentadores do "Hoje", embora o excesso de informalidade muitas vezes comprometa o telejornal. Em outras ocasiões, como há pouco, são as escorregadelas que atrapalham.

Na tradicional chamada para o "Globo repórter" do dia, por exemplo, saiu um "é surpreendente as histórias (...)". Imagino que alguma palavra tenha sido comida no caminho, pois, sendo mais de uma, histórias, surpreendentes ou não, pedem sempre o verbo no plural.

Mais adiante, na matéria do brasileiro que morreu num acidente no Chile, onde escalava uma montanha, mais algumas palavrinhas fundamentais ("o corpo de") desapareceram em "o engenheiro foi encontrado dois dias depois e chegou ontem a (...)".

Recomenda-se mais atenção ao texto e menos papo "abobrinha".

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Português e o Facebook

Nosso idioma nunca foi o forte do Facebook, vide a quantidade de besteiras nele publicadas. Agora, acho que ele se superou: incluiu nas muitas opções de postagens (em que o usuário escolhe quem pode lê-las) uma intiutlada "amigos" e outra chamada "amigos exceto conhecidos".

Agradeço se alguém souber me explicar o que isso significa exatamente.

A goiaba e outros bichos

Dizem que bicho de goiaba, goiaba é. Não sou médica, mas acho que tal princípio não se aplica ao divertículo.

Explico: hoje, no telejornal homônimo, a matéria da seção culinária/saúde tratava do fruto supracitado, que, segundo a repórter, não é recomendado "para quem sofre de diverticulite". Como o sufixo "ite", em medicina, significa "inflamação", imagino que a intenção era dizer que a goiaba não deve ser consumida por quem tem divertículos, porque, aí sim, pode provocar diverticulite.

A mesma reportagem teve outra surpresinha mais adiante: dando sua receita com a fruta do dia, o chefe de cozinha foi corrigido quando recomendou o uso de adoçante no lugar do açúcar, para o resultado ficar "mais leve". Segundo a colega, o correto é "mais light".

quarta-feira, 7 de março de 2012

Esforçada, mas não muito

Em primeiro lugar, explico que as postagens aqui andam raras porque a vida deu uma embolada. Assim, como a representante da prefeitura de Belfort Roxo (hoje, no "RJ-TV"), estou poupando forças para dar conta do trabalho de verdade (aquele que paga as contas).

Ao garantir que uma obra esperada há anos seria feita, disse a tal senhora para o repórter, depois de outras frases de efeito: "(...) vamos medir esforços (...)" Não é de admirar que os moradores em volta tenham feito cara de descrença.

sábado, 3 de março de 2012

Metamorfoses cinematográficas

Mesmo em filmes que não concorreram ao Oscar da categoria, a maquiagem pode fazer grande diferença, para melhor ou para pior, em todos os sentidos: pode ser ótima e convincente ou tosca e dispersadora da atenção do espectador; também pode enfear —como no caso de Glenn Close em "Albert Nobbs" (foto) — ou embelezar os artistas. Para o melhor ou para o pior, ela tem cada vez mais recursos, como se pode ver na atual temporada. Clique aqui para ler.