quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Lições de anatomia

Além de já estar com o nível de paciência estourando com essa tal "nova" moda erótica (parece que só descobriram o sexo este ano! — e não me pergunte como a Humanidade chegou até aqui...), não aguento mais (e não estou sozinha nisso) ver o desconhecimento total do corpo feminino por parte dos colegas jornalistas.

As mais recentes "gotas d'água" foram a matéria (de capa) da revista dominical do Globo e a nota de hoje (que a menciona) na coluna Gente Boa. Para quem não teve aulas de anatomia na escola, explico: o que é retratado no quadro "polêmico", censurado pela ABL, não é a vagina, é o monte pubiano, compreenderam? Se alguém ainda estiver em dúvida, nem precisa ter o "Gray's Anatomy" em casa: basta consultar o Google ou o dicionário mesmo (ver o verbete "vulva").

Sem poucos = muitos

A coluna Gente Boa "ressalta" declaração do poeta Chacal: "Ipanema (...) estava abandonado há um tempo, sem poucos teatros e cinemas."

Acho que queriam dizer "com poucos"...

Jornalista não vale nada!

Vejam o anúncio que uma amiga me passou:

"REDATORA WEB/ DESCRIÇÃO
Somos uma empresa produtora de conteúdo responsável por diversos sites em diferentes segmentos.
Estamos procurando por redatoras com experiência em redação web para a elaboração de artigos para portal feminino.
É importante para nós:
Que não cometa erros ortográficos e nem gramaticais ao redigir;
Que tenha a capacidade de expressar suas ideias de forma clara e precisa;
Que possa aplicar corretamente as pautas de um projeto;
Que tenha disponibilidade de escrever artigos diariamente;
Que esteja atenta às tendências de consumo e novidades do mundo feminino;
Diferenciais:
Que tenha boa leitura e escrita da língua inglesa;
Que tenha conhecimento de SEO voltado ao conteúdo.
Procuramos por colaboradoras sérias, responsáveis, comprometidas com os prazos de entrega e que tenham interesse em estabelecer uma relação à longo prazo. O trabalho é freelance, pode ser realizado na sua casa e o pagamento se efetiva por volume de artigos redigidos durante o mês.
O valor inicial pago por cada artigo é R$ 20,00."

Com essa crase aí em cima, eles realmente estão precisando de gente que saiba escrever. Mas por esse preço, acho difícil encontrarem.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Por causa do incômodo

Quase desisto de entrar hoje no blog, mas fiquei incomodada com o título "Adiamento não incomoda ao Planalto".

Pensava que a gente podia incomodar alguém sem precisar da preposição. Por causa dela, cá estou eu, que também ando por conta com os colegas que desistiram da causa. Até o João Ubaldo Ribeiro comentou, no Globo, o abuso do "por conta" disso e daquilo, em vez do tradicional "por causa". Será que acham mais chique e "muderno"?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Por ora, cobramos por hora

Bem no finzinho do interessante filme "Substitutos", vozes em off dão as notícias. A última diz, levemente ameçadora: "For now." E a legenda aparece: "Por hora."

Nananinanão, pessoal! Neste caso, escreve-se por ora (ou por agora — o exato "for now" da fala em inglês).

Acho que o Bruce Willis não cobrou por hora ("by the hour") para fazer esse trabalho. Atores, que eu saiba, recebem cachê.

Em tempo, já que o assunto é este mesmo: se já não é fácil encontrar canais pagos com legendas, som original e dublagem, para atender a todos gostos, como eles vão cumprir a exigência de exibir programação feita aqui? E quantos políticos (e corriola) já providenciaram produtoras de TV para faturar um extra? Ou alguém acredita que muitos não pensaram nem em montar estúdios, que podem ser alugados por hora?

Sujeitinho inconstante!

Na nota "A revanche", da coluna do Ancelmo, há um sujeito que não se decide entre o singular e o plural: é ela — "a turma que azucrinou (...)" — ou são eles — que "entregaram uma carta (...)"? Na frase seguinte, "ela" volta a atacar, pois "diz que a posse (...)". Ô confusão.

Os profetas do 'após-calipso'

O tom alarmista da matéria "Contagem regressiva para a extinção" me fez pensar seriamente em recuperar duas velhas máquinas de escrever que tenho guardadas (a mais antiga, presente do meu pai, é verdadeira peça de museu: uma Hermes Baby — "baby" daqueles da Johnson nos anos 1950...).

Não achei nada errado no Português usado pelo autor, no Globo, apenas exageros por parte dos entrevistados. Se, como querem eles, coisas como o teclado vão desaparecer em breve, quero saber como ficam os pobres mortais que usam o computador não para brincar, mas para trabalhar.

Algum escritor ou jornalista já tentou digitar um texto longo num iPad, por exemplo? No dia seguinte, a tendinite estava incomodando ou não?

Das duas, uma

Ficou estranho o título "Manifestações chegam pela primeira vez à Grécia e Turquia". Afinal, se algo tivesse chegado a dois países "masculinos", repetiríamos o "ao" (ao Brasil e ao Uruguai, por exemplo).

Se faltava espaço na página do Globo para a repetição do "à", não era mais simples derrubar a crase? Ficaria tudo nos conformes, como em "chegam a Portugal e Espanha", "a Argentina e Chile" etc.

domingo, 23 de setembro de 2012

A moda e seus delírios

Definitivamente, o pessoal da moda esgotou a paleta e começou a dar os nomes mais esdrúxulos para cores que pensávamos conhecer (como comentado aqui outro dia).

Eu mesma ando usando um esmalte rosa, de tom fechado (foto), chamado "Vermelho Fundamental" (vá entender!). Mas o disparate não chega aos pés do verde-água usado no Emmy por Heidi Klum, que insiste em chamar a velha cor (várias vezes, em diferentes canais) de "sea foam".

Nas praias que eu conheço, a espuma do mar costuma ser branca — ou acinzentada e até amarronzada, dependendo do nível da poluição.

A economia é a base da...

A todo momento vemos os péssimos resultados da economia porca de publicações e emissoras (ou operadoras) de TV que insistem em não contratar redatores, revisores e até tradutores. Acabo de pescar um deles agora: a sinopse do filme "Coelho sem orelhas 2", cujo texto reproduzo na íntegra, incluindo todas as vírgulas equivocadas (presentes e ausentes).

"O jornalista sensacionalista, Ludo, contrata sua amiga da infância, Anna, que sente coisas por ele. Quando Ludo vai para Berlim surge com Marie. Anna tem ciúmes da bomba sexual que concorre por sua atração por Ludo."

É ou não é um "primor"? Depois de ler isso, você ainda acredita que computador é capaz de escrever, traduzir e corrigir textos sozinho?

Cinquenta tons de pastel

Antes que alguém pergunte, informo que não li a bobagem milionária que inspirou o título acima. Li, isso sim, a nota gigante da coluna do Ancelmo a respeito da moda de "Avenida Brasil" (que também não vejo — não por preconceito contra o gênero, mas porque já tive que acompanhar muita novela por motivos profissionais).

Voltando à nota, diz lá que uma personagem "usa sempre tons pasteis". Ocorre que, pela regra, os pasteis merecedores de plural são aqueles comestíveis, de carne, camarão etc. As tonalidades são pastel, no singular, porque vêm de um substantivo — um tipo de lápis, que também designa um tipo de pintura.

Quer outros exemplos? Só para ficar no terreno da moda, temos esmaltes vinho, pulseiras bordô e coral, blusinhas rosa ou azul-turquesa, bolsas e sapatos creme ou areia... Deu para sentir a diferença entre estes itens e os que são naturalmente adjetivos, como os azuis simples? Neste segundo caso entram também saias vermelhas, corpetes dourados, calças roxas e muitas extravagâncias mais.

sábado, 22 de setembro de 2012

Férias pela metade

Terminada a "pausa para meditação", retomo a leitura do jornal e dou de cara com um titulo estranho no caderno de esportes do Globo: "Doce férias".

Fiquei aqui imaginando que tipo de férias seriam essas e cheguei à conclusão de que, no mínimo, elas serão mal aproveitadas, já que, embora sejam plurais, estão adjetivadas no singular.

Em caso de dúvida, consulte o dicionário: "férias" é um substantivo feminino plural e seu singular é féria (dia de repouso, feriado, que, por extensão,.passou a significar também o pagamento do empregado).

O que é isso, editora Planeta?

O Geoffrey que não é George
Definitivamente, a falta de cuidado da Planeta com o livro de Hugh Laurie, "O vendedor de armas", já comentada em outra nota (clique aqui para ler), está de lascar!

Se a falta de cultura é do tradutor ou da revisora, não vem ao caso, mas não dá para engolir um "George" Chaucer no lugar do mais que conhecido Geoffrey Chaucer! Com esta eu até me levantei da cama...

Estou tentando não me irritar com os erros de Português que pululam nas páginas, porque o romance é muito bem-humorado. Mas a ignorância que faz alguém trocar o original por besteiras inexplicáveis é de tirar qualquer um do sério.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A nomenclatura da moda

O tema já virou piada, especialmente com uma amiga (no setor vestuário) e com uma prima (no setor decoração). A cada ano, legumes, frutas etc. saem de moda e dão lugar a outros — não nas feiras e supermercados da vida, mas no linguajar de quem dita a cor do momento e uniformiza os incautos.

O que um dia foi roxo batata pode virar beringela ou até alcachofra, tornando todas as denominações anteriores obsoletas e breguésimas.

Experimente chamar um tom alaranjado de "abóbora". Para evitar olhares atravessados, aprenda: a nova onda é "tangerina".

Perguntar não ofende

Quem é o responsável pelo novo site dos canais Telecine? Tudo que antes funcionava não funciona mais. E a tal da navegabilidade é zero!

Na torcida por Selton Mello

Fiquei feliz com a escolha de "O palhaço" para representar o Brasil na corrida pelo Oscar (em língua estrangeira). O filme é singelo, tocante e o ator está ótimo como Pangaré.

Outro dia mesmo, defendendo as opções de som original e legendas nas atrações da TV paga, comentei com um amigo no Facebook: o que vai virar aquele jeitinho meigo do Selton em outra voz e outrro idioma? Duvido que alguém consiga emular o ator.

Não é à toa que as obras não são julgadas pela Academia com dublagem.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

De onde tiram essas ideias?

Gosto de gravar no sistema Net HD Max algumas coisas boas que passam em horários proibitivos, para assistir naqueles momentos em que não há nada interessante na televisão.

Foi o caso de "O segredo de Beethoven" (tradução já ruim para "Copying Beethoven"), de Agnieszka Holland, um filme delicado apesar da força da música (e da personalidade) do protagonista.

Ao ler a sinopse, não acreditei. Eis o que diz o Telecine a respeito da obra: "Descreve o último ano da vida do compositor erudito (...), que mantinha um tórrido romance com sua assistente enquanto compunha sua famosa Nona Sinfonia."

Nessa história fictícia, porém, não se vê um beijo ou qualquer gesto mais "quente" entre Ludwig e uma copista. De onde surgiu o delírio?

É título ou é 'olho'?

Ficou estranho o título da nota principal da coluna Gente Boa, "O rosa é o novo preto". Sem entrar no mérito da declaração, além de as fotos não mostrarem ninguém vestindo rosa (de preto, há várias pessoas), a tal fala de um dos entrevistados, destacada no alto, está lá no pé do texto.

Tem mais cara de "olho", aquele recurso usado em jornais, revistas etc., de pôr uma frase entre aspas no meio da matéria para dar uma bossa, quebrar a monotonia de um textaço e coisas do gênero.

Em tempo: o tatu-bola (citado sem o sinal em duas outras notas) continua tendo hífen. A nova reforma não ousou mexer na fauna e na flora.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O (mau) uso da língua estrangeira

Nosso idioma está recheado de termos estrangeiros, naturalmente incorporados à fala (e à escrita) cotiadana. Deve-se, no entanto, tomar cuidado com eles (talvez até mais do que com a própria língua) para não escorregar.

Hoje, na coluna Controle Remoto, o famoso "flashback" foi separado em duas palavras e apresentado ao leitor com um estranho plural: flashs backs.

Para começar, "flash", sozinho, tem plural "flashes". "And the plural form of flashback is flashbacks".

PS: ontem comentou-se na internet o erro na coluna do Verissimo, que todos sabemos ser ótimo escritor, do verbo "comecem" no lugar de "comessem" (os proverbiais brioches da Maria Antonieta, no caso). Como disse no Facebook, isso é que dá acabar com a função de revisor e confiar no corretor do Word, que não entende o que é "contexto" e não vê nada de errado se uma palavra está fora do lugar, desde que ela exista.

domingo, 16 de setembro de 2012

Efeitos nocivos da reforma II

Mais um exemplo do nó provocado pela nova reforma: no caderno Morar Bem, microimóveis está correto no subtítulo e micro apartamento está errado dentro do texto. Pela lógica imortal, escreve-se tudo junto.

Efeitos nocivos da reforma

Essa nova reforma ortográfica acabou de bagunçar a cabeça do brasileiro que já não sabia muito bem onde pôr o hífen, onde dobrar os "ss" e "rr" e outras coisinhas mais.

Como muito mudou, mas não tudo — ou seja, continuam existindo exceções em excesso na maioria das regras —, já começam a pipocar erros como "guardarroupa", assim escrito várias vezes na tela durante o filme "A dama de branco", em cartaz no MGM HD.

Como na nota abaixo, porém, pede-se encarecidamente que isso não interfira no ótimo hábito das emissoras pagas que exibem a programação com as opções de som original e legendas.

Aos profissionais da área, recomenda-se: na dúvida, troque o guarda-roupa por armário.

Outra boa ideia é ir à Academia Brasileira de Letras, terça-feira, perguntar cara a cara ao Evanildo Bechara o motivo de tantos rabichos deixados para trás. Deu no jornal que ele vai falar do assunto.

Xeque-mate no Português

Resolvi dar uma chance para a refilmagem de "Sob o domínio do medo" ("Straw dogs") e, além de confirmar que o bonitinho James Marsden tem que ralar muito para chegar aos pés de Dustin Hoffman (protagonista da versão de 1971), fui surpreendida por uma nova jogada do xadrez: o "cheque" (com "ch" e, certamente, sem fundos).

Sim, o "cheque" apareceu várias vezes nos diálogos — às vezes até corretamente, significando aquele pedaço de papel que a gente assina e usa para pagar alguma coisa.

Que isso, porém, não desestimule os canais que oferecem aos assinantes programação com som original e legendas — caso da HBO, que exibiu o filme citado. Sem ver (e ouvir) a interpretação completa dos atores, fica difícil apreciar seu trabalho — e isso em qualquer língua, mesmo naquelas das quais não entendemos patavina.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Afinal, é via ou veículo?

Essa mania das autoridades da República Federativa do Bobajal de batizar as coisas com nome estrangeiro não pode dar bom resultado. É o caso do tal BRT, Bus Rapid Transit — expressão que, para a maioria dos brasileiros, certamente não quer dizer nada.

Quer dizer, nada a não ser acidentes e confusão idiomática.

Hoje, um titulão do Globo informa: "Acidente com BRT causa mais uma morte", dando a entender que um veículo denominado BRT estava envolvido na batida. Mas a matéria já começa dizendo que houve uma morte na colisão com um ônibus do BRT, que esta foi a quinta morte no BRT Transoeste etc.

Afinal, alguém pode me explicar se esse trem com nome esdrúxulo é uma pista (perigosíssima, pelo visto) ou os veículos que trafegam nela?

Uma vírgula!

Vírgulas são um instrumento poderoso — e perigoso — no nosso idioma. Por isso mesmo, deve-se ter cuidado com elas.

Um bom exemplo dos riscos do uso indiscrimidado do recurso está numa nota da coluna Gente Boa de hoje, em "diz o filho, Rodrigo Veloso".

Como o texto trata de Dona Canô, mãe também de Maria Bethânia e Caetano, a vírgula não cabe aí. Só caberia se Rodrigo fosse seu único filho.

Um modo fácil de lembrar a regrinha: coisas plurais não ganham vírgula, ao contrário das singulares. Ou seja, a ministra da Cultura, Fulana de Tal, leva. Mas as ex-ministras Beltrana e Siclana, não.

Como estragar um bom livro

Antes de mais nada, explico que esta nota deveria ser uma dica literária: "O vendedor de armas", primeiro romance de Hugh Laurie, mais que conhecido mundo afora como o Dr. House. O livro é uma delícia, tem uma narrativa ágil e muito do humor que, mais tarde, o ator emprestaria ao famoso personagem.

O problema está na enorme quantidade de erros de revisão, que tira boa parte do prazer da leitura — e, às vezes, provoca risos na horra errada.

Nessa madrugada, por exemplo, tropecei numa menção ao seriado "Grey's anatomy", que não existia em 1996, quando Hugh estreou na literatura. Será que não havia uma pessoa um pouquinho mais culta para cuidar do texto de um cara que nasceu em Oxford e se formou em Cambridge? O autor, claramente, estava falando de "Gray's anatomy", um clássico da medicina com cujo nome fizeram trocadilho no título da tal série. E esta é tão tolinha que, mesmo que fosse contemporânea ao ótimo livro de Laurie, eu me pergunto: como ninguém desconfiou que ela não combina em nada com a trama, com o autor, com seu humor etc.?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Escrevem de tal modo que...

Dia chuvoso, papo pro ar, começo a percorrer os canais da Net em busca de algo interessante para ver. No Telecine Premium (que, como todas as emissoras pagas deviam fazer, oferece opções para todos os gostos: legenda, som original e dublagem), encontro um filme com belas imagens, intitulado "Coração de pescador", e desisto ao ler o início da sinopse:

"A história de um jovem de 20 anos que vai viver em uma cabana de tal modo a não fazer nada além de pescar."

O que esse "tal" está fazendo na frase, não me perguntem. E, mesmo sem o inapropriado trambolho, uma sinopse dessas não atrai o espectador.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não precisa da preposição?

Ontem não tive tempo de ler o jornal com atenção, por isso só hoje percebi, na primeira página do Globo, o título "O adversário que Mano precisava" e embatuquei.

Afinal, não se usa mais a preposição "de" quando "precisar" tem o sentido de se necessitar de alguma coisa? "Precisar" não dispensa o "de" apenas quando tem o sentido de dar exatidão a algo ou ajustar alguma coisa? Ou a sutil diferença entre "um relógio preciso" e "o relógio de que todos precisamos" (e que até podem ser a mesma máquina) desapareceu do mapa?

Péssima escolha

Além de feio e pouco usado fora do meio jurídico, o verbo "oficiar" pode confundir quem não é familiarizado com o jargão. Hoje, por exemplo, na coluna Gente Boa, diz a nota "Prédio abaixo" que "a Defensoria Pública oficiou a Fifa ontem (...)".

Só que, diz a regra, se oficia alguma coisa a alguém (ô trem horroroso!). Usando um Português mais coloquial, envia-se ofício a alguém — ou seja, devia ter crase antes da Fifa.

Com crase ou sem crase, a nota começou e terminou confusa, sem informar ao leitor se o tal prédio cai (como quer o governador) ou não cai.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Parabéns, Band e Boechat!

Fiquei contente ao ver há pouco, no jornal do simpático ex-colega de redação, que as pessoas continuam normais (e mortais) como sempre foram. Desta forma, quando escapam de algum incidente e sua saúde sai da zona de perigo, elas "não correm mais risco de vida", do jeitinho correto que cresci ouvindo e falando — assim como meus pais, os pais deles e muitas gerações anteriores.

Na Globo, infelizmente, ainda há gente tolinha que acredita na imortalidade da raça e acha que, só por ter driblado um problema aqui ou ali, existem seres que "não correm o risco de morrer". Santa ingenuidade!

Arte viva é isso aí

Outro dia mesmo, uma amiga jornalista reclamava dos colegas, que, segundo ela, andam abusando de usos errôneos de verbos como "iniciar" e "inaugurar". É cada vez mais comum encontrarmos em publicações ou ouvirmos na TV frases como "as inscrições iniciam", "a exposição inaugura" e por aí vamos, totalmente equivocados.

Inscrições (ou aulas etc.) não começam nada sozinhas — portanto, se iniciam ou serão iniciadas. Uma exposição (ou uma mostra etc.) também não inaugura coisa alguma, já que não é um ser vivo com vontade própria — então, ela é inaugurada por alguém, seja lá quem for (o artista, o curador, o dono do espaço...).

Essa história toda foi motivada pelo subtítulo, da coluna Gente Boa, "Galeria abre onde foi (...)". Não pude deixar de pensar que essa nova galeria carioca é esperta mesmo, pois não precisa de ninguém que lhe venha descerrar as portas para receber o público.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dica teatral (só até o dia 24)

Para quem está no Rio e gosta de teatro, uma boa dica é "Popcorn — Qualquer semelhança não é mera coincidência", de Jô Bilac, em cartaz até o próximo dia 24, na Sala Paulo Pontes (Shopping dos Antiquários, em Copacabana).

Entrosadíssimo, o elenco saiu do Teatro Ipanema e se adaptou ao novo palco, menor e mais próximo do público, sem perder a pose. Quer dizer, como numa boa reunião de família, à qual se junta uma atriz histriônica (Xuxa Lopes), pai (Cássio Pandolfi), filhos (Mabel Cezar e Vinícus Arneiro) e nora (Maria Maya) perdem a pose constantemente em cena, muitas vezes provocando alarido, em meio ao qual afloram suas personalidades.

Muito se falou do tema (falta de) originalidade e apropriação de ideias, que originou a peça. Mas "Popcorn" vai além, conseguindo comover e divertir. Ria à vontade (e não espere encontrar o "verniz" da foto ao lado).

Romance impossível

Achei um pedaço não lido do Globo de sábado e decidi dar uma olhada num texto intitulado "A invenção do romance"  — não dá para chamar de matéria, pois é uma colagem de 12 trechos da obra de uma sexóloga, que pretende contar a história das relações românticas e sexuais ao longo de muitos e muitos séculos.

Empaquei logo no segundo tópico, que trata do amor na Grécia antiga e diz: "(...) As mulheres eram tão desvalorizadas que os homens só achavam possíveis amar outros homens. (...)".

Fiquei me perguntando quem seriam "possíveis"? Talvez "os homens", mas aí teria que ser "possíveis de amar" (e mesmo assim fica feio pra burro!).

Como não achei sujeito possível na frase, considero impossível amar os dois volumes desse livro. Não me atraiu mesmo.

Defesa com defeito

O site do Procon do governo do Rio pode até ajudar a defender o consumidor, mas não protege o nosso idioma. Em mais de uma página, na informação dos dias de atendimento, há uma crase horrível (e inexistente, é óbvio) em "de segunda à sexta-feira". 

O governo (em qualquer instância) não devia dar mau exemplo e deixar passar uma bobagem facilmente perceptível. Alguém diz "de segunda ao sábado" ou "de terça ao domingo"? Não! Então, por que haveria de ter um artigo junto à preposição antes de "sexta-feira", um dia tão simpático e aguardado por quem trabalha?

Postagens que irritam


Um companheiro de Facebook publicou na rede a imagem aí ao lado, com o seguinte comentário: "Odeio esse tipo de postagem!!!"

Realmente é chato o uso do espaço para coisas de mau gosto como esta, mas costumo passar batido por elas. Difícil de engolir (e de não ver, pois meu olho parece ter uma atração especial por erros) são disparates como esse acento horroroso em "ÓLHE" (?!?). Perdoai-os, Senhor, porque eles não sabem o que escrevem.

domingo, 9 de setembro de 2012

Banhos plurais

Folheio rapidamente a revista dominical do Globo, antes de ir comemorar o aniversário da minha irmã, e descubro um estabelecimento de Copacabana (que desconhecia existir na minha vizinhança) sendo transformado em galeria de arte.

Até aí, tudo bem — é mais um espaço cultural para o bairro, pensei. O problema estava na descrição do velho ocupante do lugar. Diz lá, no jornal:

"A termas, que funcionou nos últimos 32 anos, (...) era um expoente no ramo."

Qualquer um com um dicionário à mão sabe que até existe "a terma", palavra pouco usada no singular, e que o mais comum é empregar "as termas", substantivo feminino plural. Misturar é que não pode.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Questão de ordem

Hoje, no Segundo Caderno, há uma nota a respeito de uma apresentadora de TV que mudou de hábitos "desde que seu filho de 2 anos nasceu".

Como a criança não veio ao mundo com essa idade toda, não seria melhor escolha algo como "desde que seu filho nasceu, há dois anos"?

Cadê o chapeuzinho?

Dando uma folheada no caderno de turismo do Globo, vejo reportagem a respeito da cidade uruguaia de Colônia, que já foi Colônia do Sacramento, sob domínio português.

O problema é que, no título e no corpo do texto, o nome do lugar está com a grafia espanhola, sem o "chapeuzinho", o que, para nós, soaria como Colonía (com acento agudo no "i").

É bom lembrar que nem todos os circunflexos foram pro espaço com a mais recente reforma ortográfica da República Federativa do Bobajal.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Esporte equivocado

Definitivamente, a moda agora é praticar esporte com nome errado. A bola da Copa tem "Z" no lugar do (correto) "S", inventaram os Jogos Paralímpicos (uma homenagem aos deuses do Limpo, mundialmente conhecidos como os seres mitológicos mais higiênicos de que se tem notícia) e, como me informou hoje uma amiga, contamos até com uma federação nacional de trampolim.

Evidentemente, achei que ela se referia àquela modalidade (fascinante) em que os atletas dão saltos incríveis e mergulham em piscinas, mas... que nada!Algum preguiçoso traduziu "trampoline" ("a resilient sheet or web — as of nylon — supported by springs in a metal frame and used as a springboard and landing area in tumbling" — ou, em bom português, "cama elástica") pela sonoridade — e deu no que deu.

Alô, Confederação Brasileira de Ginástica! Trampolim de verdade, em inglês, é springboard ("strong, flexible board from which someone may jump in order to gain added impetus when performing a dive or a gymnastic movement. 2. a thing that lends impetus or assistance to a particular action, enterprise, or development: an economic plan that may be the springboard for recovery"). Ou, como diz o Houaiss:
 
1 prancha longa, e ger. bem elevada, em que nadadores, acrobatas etc., preparam os seus saltos e de onde os executam 2 fig. pessoa ou coisa que vem a constituir o meio pelo qual se obtém ou realiza algo <o marido, dramaturgo renomado, foi o t. para sua carreira teatral>.

domingo, 2 de setembro de 2012

Bola quadrada

Certamente pelos mesmos motivos das "Paralympics", dois anos antes teremos na Copa uma bola chamada Brazuca, com "z".

Uma amigona jornalista me escreveu, estranhando a grafia — e com toda razão. O vocabulário da ABL registra a palavra com "s" — afinal, nosso país é o Brasil, embora haja quem acredite que mora no Brazil.

Se alguém ainda tem dúvida, segue também o verbete do Houaiss:
brasuca - adj.2g.s.2g. P infrm. m.q. brasileiro <a música b.> <um b. solto em Lisboa>  etim red. de bras(il)- + -uca; ver 1bras-

Sem resposta e sem sentido

Infelizmente, no Rio de Janeiro, a qualidade do Pão de Açúcar "Delivery" (que chatice essa mania!) vem descendo a ladeira. E não é só na entrega (viu só? Temos uma palavra para isso), que agora chega sempre atrasada e com mercadorias faltando (mas incluídas na nota) ou danificadas.

Na tentativa de fazer contato com o e-mail falecom@paodeacucar.com.br, recebe-se outro de volta: o noreplay@paodeacucar.com.br. Até então, eu conhecia o "no reply", ou "sem resposta". O "no replay" deve ser uma inovação para avisar o cliente de que ele não deve persistir no erro e tentar outra vez o serviço.

Imagina nas Olimpíadas

Uma amiga jornalista tenta entender o motivo de os Jogos Paraolímpicos terem virado Paralímpicos. O site da Globo, por exemplo, justifica a mudança como mais uma unificação de grafia em todos os países de Língua Portuguesa, mas termina a explicação usando o termo em inglês.

A bagunça também pode ser um prenúncio do que veremos por aqui em 2016 (quem acompanha o carnaval promovido com a bandeira das Olimpíadas — entre outras coisas menos ou mais graves — tem motivo de sobra para temer o pior).

Se o comitê organizador pediu a troca do nome e foi atendido, alguém esqueceu de avisar a Academia Brasileira de Letras, que adora inventar moda com o nosso idioma, mas continua registrando apenas a palavra "paraolímpico" em seu vocabulário oficial.

E agora? Vão ousar mexer no dicionário dos imortais?