sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Vai-se a Paris e à França

Colegas do Globo.com, por favor, tirem essa crase horrorosa do título "EUA tentam prender Roman Polanski durante viagem à Varsóvia"!

Vocês conhecem "a Varsóvia"? Não.

Mas falam "a Polônia", né?

Então. É possível ir À Polônia com crase. A Varsóvia, só se vai sem.

De contas e causas


Título da página 32 do jornal O Globo de hoje:

"Iraque: cerca de 220 corpos são encontrados".

Que tal arredondar essa conta pra "cerca de 200" ou "mais de 200"?

Já que falei em "conta", aproveito pra pedir mais uma vez: vamos parar de usar esta palavra toda vez que o assunto é morte, epidemia etc.?

Elas têm uma CAUSA, esta pobre esquecida.

Saber disso, falar daquilo

Ontem mesmo comentei a paixão avassaladora dos colegas pelo bendito "sobre" ("avassaladora" porque destrói os textos).

Volto a recomendar o uso de dicionários, bem como algumas lições de Preposição e Regência, notadamente esquecidas.

Seguem dois exemplos do Globo de hoje:

1) na página 30, o repórter cita o "manifesto de (Tom) Cook no site (tal), em que FALA SOBRE o orgulho de ser homossexual";

2) na página 10, a matéria do escabroso caso do menino Leonardo diz que o promotor (Fulano) "quis SABER SOBRE a relação (...)".

Como se explica um trem desses?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Leia a 'bula' antes de usar

Queridos colegas, "bora" voltar pra escola e aprender regência?

"Bora" também consultar um dicionário antes de meter "sobre" em tudo que é lugar?

Hoje tem exemplo do mau uso da preposição na página 8 do Globo, no texto "O difícil consenso".

O subtítulo começa assim:

"Especialistas discordam SOBRE tipo ideal (...)".

Se não há tempo pra voltar às aulas, uma olhadinha no Houaiss ou no Aurélio resolve.

Está lá: discorda-se DE alguém ou DE alguma coisa, OK?

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Texto insubordinado

Um amigo me mandou há pouco uma notícia encontrada no Ancelmo.com, a respeito de um jovem que morreu "após uma queda da localidade conhecida como Carrasqueira".

A tragédia já começa mal escrita (mania horrorosa essa de "morreu após", ou "antes" ou "durante"! Parece "CSI").

E informa, no quarto parágrafo:

"A administração do Parque Nacional da Tijuca, ao qual está subordinada a Pedra da Gávea (...)".

Dúvida do filho do colaborador:

"Uma pedra pode ser SUBORDINADA a um parque?"

Esquisito, né?

Seria a pedra hierarquicamente inferior ao parque, ou sua subalterna? Tem apenas papel secundário em relação a ele, ou trabalha sob suas ordens?

"Cartas" para a "redação" (aqui mesmo, claro).

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Jornalista incorporado

Antes de enviar para a leitora adequada — uma adolescente — a Revista da TV do Globo, dou uma passada de olhos na matéria com os veteranos Francisco Cuoco e Betty Faria, que, pelo visto, fazem uma novela ambientada nos anos 1970.

Quase caí dura ao ler o seguinte trecho:

"Betty diz que o momento mais marcante da década (...) foi o nascimento de seu filho. Mas que adentrar o ser de 'Boogie Oogie' traz de volta (...)".

Parei!

Adentrar o ser de Boogie Oogie?!

Não alcancei o nível esotérico-espiritual da repórter (e os dois atores não merecem!).

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Humor gramaticalmente correto

O Sensacionalista tem uns "furos jornalísticos" ótimos.

Como este aqui (clique para ler), em que os humoristas que o escrevem só se esqueceram de usar "por que" separado (o incorreto "sabem PORQUE..." foi repetido várias vezes).

Fica a dica (que já dei aqui outras vezes): se tem dúvida no Português, tente formar a frase em Inglês.

Quando for "why", separe; se for "because", junte.

O que queriam dizer?

Qual é o sentido desta frase?

"Essa atriz só brilha na televisão."

Encontrei-a numa passada de olhos pela coluna Controle Remoto e embatuquei.

A moça, que desconheço, nunca trabalhou em teatro e cinema ou faz sucesso sempre que dá as caras na TV?

PS: falando em "caras", a publicação homônima cada vez contamina mais aquela revistinha do Globo hoje dedicada a "celebridades".

Famílias estão virando clãs, filhos são herdeiros etc. etc.

Que pobreza!

domingo, 19 de outubro de 2014

Mais cuidado, pessoal!

A assídua colaboradora mandou cedo a notinha de pé de página do Ancelmo, indignada com a péssima construção da última frase.

De fato.

O "fezele" me lembrou das velhas lições, recebidas em casa antes mesmo da estreia na escola, como: não diga "vi ela".

Mais que todos, profissionais do texto não podem misturar a norma culta com o uso popular.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Entrou areia no alfajor

A chamada do alto da primeira página da Economia do Globo informa, ao lado de uma foto de alfajores:

"Havanna chega enfim às praias cariocas". (sic)

Fiquei curiosa. Não conseguia imaginar o doce argentino sendo apregoado entre banhistas, juntamente com mate, biscoitos Globo e picolés.

Pois é. Nem os "hermanos" responsáveis pela famosa marca.

Lá dentro, a matéria fala apenas de lojas que serão abertas no Rio e em outras cidades brasileiras.

De quem foi o delírio? Do estagiário, como sói?

Passa e repassa

A querida amiga mandou "presentinho de aniversário" pra mim, encontrado em matéria da Folha, cujo tema era o telefonema de Marina a Aécio.

Diz o texto:

"Marina telefonou para o coordenador de sua campanha e deputado Walter Feldman (PSB-SP), que repassou o celular para o presidenciável."

Diz a amiga:

"Em Português, Marina telefonou. O deputado passou o aparelho para Aécio. Repassar significa passar outra vez. O aparelho, ao que tudo indica, não havia sido passado anteriormente a quem o atendeu. Ah, a falta que faz um redator/revisor..."

Parece até que o nosso idioma é passado de uma geração pra outra por meio da velha brincadeira de telefone sem fio.

E o pessoal da Comunicação não está entendendo bem a mensagem.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Tente em outra língua

A amiga postou este artigo da Carta Maior, que está até interessante, mas tem uns probleminhas.

Numa vista d'olhos, nota-se, primeiramente, o título:

"Porque a classe média brasileira está dividida(...)".

Tente em Inglês: é "because" ou "why"?

Vence o segundo, que aqui se escreve "por que", separado.

Lá dentro também achei confuso o uso de "sútil" e "sutil", ambas repetidas no texto. As duas palavras existem, têm sentidos bem diversos e... 

Vai ver não entendi porque o soninho está chegando — ou o autor foi sutil demais pra minha cabeça.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

De tirar o humor

Impossível manter o bom humor ao ler tanta besteira no jornal em que trabalhei tantos anos.

Vejam na foto o que a amiga e colaboradora assídua mandou pra mim.

MAU-HUMORADO é forte, viu? Pois é, está na contracapa do Segundo Caderno.

Lição básica do antigo primário: mal-humorado e mau humor; bem X mal; bom X mau

Se o editor não aprendeu na escola, podia ter aprendido nos quadrinhos ou nos filmes de super-herói, em que sempre há "a luta do bem contra o mal".

Vai escrever mal assim no...

A distribuidora do Globo não quer mais trabalhar na minha área, mas o atento amigo pegou esta "maravilha" no jornal:

"Mais de 60 crianças e adolescentes foram apreendidos em praias da Zona Sul, segundo a Polícia Militar. A grande parte deles agia na Praia de Copacabana e também na Rua Rainha Elizabeth, no mesmo bairro".

Já acho estranha essa coisa de apreender gente, ainda que seja uma recomendação no caso de menores.

Mas o que nos intrigou mesmo foi "a grande parte deles" que agia em Copa. Seriam as pernas, talvez?

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Que concordância é essa?!?

Mais uma colaboração chegando.

Lá da Bahia, a amiga me marcou numa postagem do Facebook que mostra a capa da Folha de SP de hoje (foto), com a seguinte frase:

"Pra quem VAI OS VOTOS de Marina".

Acho que os votos eleitores brasileiros não VAI pra ninguém.

Já os meus votos pessoais vão para a recuperação imediata dos revisores e copidesques, que estão fazendo falta nas redações.

Aprenda antes de usar

Uma amiga que recebe O Globo enviou colaboração que confirma: Gente Boba não sabe o que significa "recapitular".

Em nota a respeito de um menino e uma babá numa academia, diz a coluna:

"A direção, que garantiu o acesso de crianças aos banheiros femininos, RECAPITULOU. A placa (...) foi retirada da porta do toalete."

Recapitulando a lição: "recapitular" quer dizer "reduzir aos tópicos principais ou ao que é essencial; compendiar, resumir, sintetizar; examinar sumariamente; trazer novamente à lembrança; rememorar".

O pessoal da coluna devia estar naquela seção da revista dominical do jornal que faz da ignorância do povo tema de piada, pois desconhece o verbo "capitular", que se aplicaria na frase.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Regência e demonstrativos

Lendo uns pedacinhos do Globo de domingo que sobraram aqui, confirmo que os colegas continuam atrapalhados com a regência e com os pronomes demonstrativos.

Um exemplo do primeiro caso está na matéria de capa do Segundo Caderno:

"(...) Timon (de Atenas) prepara um banquete final ÀQUELES que, em breve, serão (...)".

Que eu saiba (e o Houaiss e o Aurélio...), a gente prepara alguma coisa PARA alguém — assim como prepara alguém PARA alguma coisa etc. etc.

Dois exemplos do segundo caso encontram-se em "Exclusão social no Vale do Silício preocupa", um "textículo":

1) "Eu nasci no meio de pobres. ISSO me fez querer (...)".

2) "Sou sempre legal, ESSA é a minha arma secreta".

Pela proximidade, deviam ter sido usados "ISTO" e "ESTA".

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Causa? Não continuou os estudos

O amigo acaba de postar no Facebook:

"'(...) as ruas de Hong Kong SEGUIRAM BLOQUEADAS (...)', disse agora Márcio Gomes no JN. Tá feio o negócio."

Feiíssimo, arremato daqui.

Só faltou dizer que elas SEGUIRAM BLOQUEADAS POR CONTA da falta de familiaridade com nosso idioma.

Tautologia em ação

O atento amigo ligou o rádio na CBN, hoje de manhã, e me conta o que ouviu:

"Octavio Guedes saúda Lilian Ribeiro, que faz aniversário, e começa a relatar um 'fato real'. Ela pede confirmação: 'Um fato real mesmo?' Ele confirma."

Enquanto meu amigo espera os comentários a respeito de "fatos fictícios", eu aproveito pra explicar que FATO é algo cuja existência pode ser constatada de modo indiscutível — e isto se aplica ao seu uso jurídico, científico e "genérico".

Os colegas do Globo deram a mesma escorregada no pleonasmo na capa do Segundo Caderno de sábado, já citada aqui por causa de outro tropeção.

sábado, 4 de outubro de 2014

Não pensa, logo...


Caros colegas, cuidado com as conjunções — e com suas funções, variadíssimas.



"Logo", "por conseguinte" e "portanto", por exemplo, são conclusivas.

Como explica o Houaiss, "introduzem uma oração coordenada que contém a conclusão de um raciocínio ou exposição de motivos anterior".

Portanto, não têm lugar na matéria de capa do Segundo Caderno, ligando a informação de que uma pessoa escreveu livros que concorreram a prêmios e o fato de que ela "corre os olhos pelas pelas muitas estantes da sala da casa (...)".

Desde quando uma consequência de ser escritor é "correr os olhos pelas muitas estantes" etc. etc.?

Mistérios da imprensa

O que está acontecendo nas redações?

Que não há mais copidesques e revisores, já deu pra notar.

Mas ainda há alguns mistérios que não consegui desvendar.

Onde estudaram os repórteres e onde foram parar os editores?

Ninguém mais lê nada antes de publicar?

E "PRECIDENCIÁVEIS" significa o quê?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Sem intimidade com o tema

O Globo continua não chegando aqui em casa, mas, vira e mexe, amigos que recebem o jornal me enviam colaborações.

Um deles, hoje, pergunta:

"Como publicam (no caderno Zona Sul) uma reportagem sobre sebos em que, numa hora, as autoras parecem íntimas do autor de 'Os sertões' e, na seguinte, desconhecem o nome de um escritor de livros fundamentais para quem estudou Comunicação?"

Pois é.

Segundo o colega, as repórteres falam de "um exemplar de Sílvio Romero com dedicação de próprio punho AO Euclides da Cunha". "Ao Euclides", tão amiguinho, é forte — e "dedicatória" soa melhor, né?

Mais adiante, aparece um tal de "Humberto Eco", assim mesmo, com "agá". Alguém aí já leu?