sexta-feira, 31 de maio de 2013

Hermetismo é isso aí

A manicure atrasou, eu comecei a fuçar a programação da TV e bati o olho em "A oitava página", que não reconheci de cara como o britânico "Page eight", de 2011.

Ao clicar na sinopse da Net (canal Telecine Premium), encontrei essa "beleza":

"O filme é particular, ainda mais porque se intromete no mundo dos serviços de inteligência, algo nunca feito até agora."

Hã?!?

Tem uma inteligência deveras particular o autor da resenha, não compreendida até agora. O filme não merece!

Faixa seletiva para chuva?!?

Abro rapidinho o Facebook e encontro uma colaboração sensacional, com a rubrica "a melhor da manhã".

A pérola especialíssima foi pescada na Band News FM (e grafada com maiúsculas, na postagem original, certamente para dar a exata dimensão do seu tamanho): 

"CHOVE NOS DOIS SENTIDOS DA PONTE RIO-NITERÓI."

Sei que no Rio é comum cair chuva num bairro enquanto outro, às vezes vizinho, não recebe uma gota.

Mas achar que é preciso explicar que está chovendo tanto pra quem vai quanto pra quem vem, ao longo daquela ponte, é forte!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ordem, por favor!

Após um dia cansativo na rua, dou uma rápida passada na página de seriados da Veja, um dos blogs da publicação que mais visito.

Foi lá que achei mais este exemplo de que, no Português, a ordem dos fatores altera o produto:

Matthew Rhys
"(...) A esta lista deve-se somar o ator Matthew Rhys, atualmente no elenco da série The Americans, que foi escolhido para dar nova vida ao Sr. Darcy na minissérie Death Comes To Pemberley."

Do jeito que está, parece que o elenco inteiro de "The Americans" foi escolhido para o papel. Que tal pôr ordem na frase?

"A esta lista deve-se somar Matthew Rhys, escolhido para dar nova vida ao Sr. Darcy na minissérie Death Comes To Pemberley. Atualmente, o ator está no elenco do seriado The Americans."

domingo, 26 de maio de 2013

'Comentar' não é 'contar'

É uma crítica? É uma opinião? Não! É um estraga-prazer (pra não usar a palavrinha inglesa "spoiler").

Quando senti para onde ia o texto a respeito de "Inferno", no Segundo Caderno, interrompi a leitura.

Porém, não sem antes encontrar nome de livro sem aspas ao lado de outro aspeado; a feia expressão "via de regra", cujo uso o manual de redação do próprio Globo desaconselha; um ferimento à bala, com uma crase que não cabe aí; pesadelos onde; e...

Sabe do que mais? Vou voltar pro livro do Dan Brown.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bórgia, uma história mal traduzida

Em evidência em dois seriados, os Bórgia não estão dando sorte com a Língua Portuguesa.

Na série exibida pelo canal MAX, Lucrécia, enfática, diz "eu estou!", em Inglês, e a legenda me sai com um "eu sei", sem pé nem cabeça.

Na Wikipédia, vou atrás de uma informação sobre seu irmão Cesare (aqui retratado por Altobello Melone) e encontro a frase estapafúrdia:

"Após o assassinato de seu irmão Giovanni, César abandona a carreira religiosa para tornar-se guerreiro, onde é nomeado Duque de Valentinois."

"Onde"?!? Que lugar é esse "tornar-se guerreiro"?!? Acho que o redator comeu a França... (deve estar gordo, coitado.)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Obras não definem um leilão


A criatividade dos colegas ao ajetivar coisas e pessoas torna a leitura do jornal bem divertida.

Hoje, em nota da coluna Gente Boa, há o anúncio de um "leilão erótico".

A imaginação voou longe.

Será que um leiloeiro em sumários trajes de couro preto vai oferecer ao público prazeres sexuais variados, exibidos por dominatrixes e outros exóticos personagens?

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Apertem os cintos, a rua sumiu!

Ouvida há poucos minutos no RJ-TV, naquele "papo policial" diário:

"É preciso acabar com esses roubos de carro e roubos de rua."

Antes que o interlocutor repetisse a frase, eu já estava sorrindo, imaginando a dificuldade dos ladrões na fuga, levando ruas e avenidas inteiras nas costas.

Punição em dose dupla

Amiga jornalista reclama, com razão, da manchete do Dia:

"Além de ser demitida, a pobre doméstica vai pagar multa!", diz ela.

Eu vivo lembrando aqui: Português não é Matemática, em que, em muitas operações, a ordem dos fatores não altera o produto.

Olha a bobagem aí ao lado.

Fora do Pacto e da ordem

Encontro hoje a colaboração do amigo. A fonte? O caderno Amanhã de ontem. (parece confuso, mas é isso mesmo.)

Estava lá a "gracinha", num subtítulo:

"ONU já descredenciou quatro mil empresas do Pacto Global em sete anos, das quais 197 delas eram brasileiras". (sic)

Pra começar, "da quais" dispensa o "delas".

E por que não ordenar a frase mais adequadamente? Sinta a diferença:

"Em sete anos, a ONU descredenciou do Pacto Global 4 mil empresas, das quais 197 eram brasileiras".

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bailando no tribunal

Ponho para gravar a série "Bórgia", no canal MAX, e descubro que o pessoal das legendas anda trocando as bolas.

Toda vez que alguém menciona a "corte" de Nápoles, a "corte" de Milão etc. aparece a palavra "tribunal" na tradução.

É só prestar atenção para perceber que, quando os personagens se referem a questões judiciais, usam (em Inglês mesmo) "tribunal", que significa "corte de Justiça".

Na primeira vez em que notei o erro, um casal comentava a dança que executaria numa grande festa — ou seja, era fácil perceber que não iam bailar diante de juízes, jurados etc.

Mesmo assim, melhor ter som original e legendas do que não ter esta opção.

Futebol na areia

Moda é mesmo um trem chato, especialmente quando se dá na linguagem.

Uma das últimas é rebatizar estádio de futebol.

Como vi há pouco no "JH", em matéria de Pernambuco, virou tudo "arena".

Incomoda não só pelo fato de termos grama no lugar de areia — fico sempre achando que vão entrar em campo leões, gladiadores e que tais, em vez de jogadores de chuteira e meião.

domingo, 19 de maio de 2013

Se eu vir, balbucio

As últimas pérolas do interminável colar confeccionado pelos colegas da República Federativa do Bobajal já renderam outras.

Um amigo garante que "a boneca Repolhinho proclamava na embalagem: 'Eu balbuceio'!"

Melhor calar a boquinha de trapo que me deixou engasgada — mal consigo balbuciar no momento.

Outra amiga se espantou ao ouvir hoje, na televisão, um jornalista dizer: "Se você ver isso...".

É de doer mesmo, quase de estourar os tímpanos, mas lamento informá-la de que já vi gente com diploma universitário corrigir interlocutor que disse, corretamente, "se eu vir isso". Acredite se quiser.

Duro de engolir

Ainda entalada com o pão que "saceia", dou sequência à reclamação da amiga que acha "cada vez mais difícil compreender os dialetos dos profissionais que estão na faixa dos 30 anos e são entrevistados nas emissoras de TV" da República Federativa do Bobajal.

A limitação do vocabulário é o que mais a (me) incomoda — a começar pelos adjetivos: tudo virou "bacana" ou "legal".

Ontem, ao ouvir uma designer paulistana dizer que gostava de certo fabricante porque "ele trata dessa questão do papel do parede", ela desabafou:

"Meu Santo Antonio Houaiss, meu Santo Aurélio Buarque de Holanda, socorro!!!!"

A palpitante e seriíssima "questão" deu margem a elucubrações variadas e muito criativas desde que foi postada no Facebook.

Comida estragada

Aprendi ainda pequena: "as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá".

Mas que a comida que aqui "saceia" não "saceia" como lá é novidade.

Foi encontrada por uma amiga, que reclama da falta de edição no programa de culinária cujo apresentador garante que "o pão integral artesanal orgânico saceia mais". Ui! 

Alô, alô, pessoal da ilha de edição: se o cozinheiro manda um Português indigesto, corta!

Jornal rosa com laços e bolinhas

Não é só a indigência vocabular que incomoda no atual jornalismo: os temas infantiloides, também.

Agora mesmo, folheando a Revista da TV (ler é quase impossível), bati o olho num "muso inspirador" que doeu.

Não tinha aspas, itálico, nada que que indicasse que se tratava de uma "gracinha". 

E uma "gracinha" pleonástica, pois as musas — criaturas míticas, substantivas e femininas — cuidavam exatamente disso: inspirar.

O suplemento dominical do Globo anda tão menininha que o Globinho — este sim feito para crianças — consegue ter muito mas substância.

sábado, 18 de maio de 2013

Dormir, talvez sonhar...

"Sonhar" não é um verbo simplesinho.

Pode-se sonhar ser isso ou aquilo, sonhar em preto e branco, sonhar com alguém ou alguma coisa... A gente pode até sonhar-se o que quiser!

As possibilidades parecem infinitas, mas a realidade é outra.

Tanto que, na chamada do filme "Projeto X", no site da HBO, parece faltar algo. Está lá a frase:

"A festa que você sempre sonhou."

Pode não soar tão bem, mas é mais adequado dizer "que você sempre sonhou ter (ou "dar", ou "fazer"...)", ou "com que (ou "com a qual") você sempre sonhou".

E bons sonhos, que estes, afinal, são de graça.

Associação derrapa na pista

"Sem semelhança com nenhum outro, único no seu gênero; original, peculiar, singular (...)". Tudo isto é sui generis

O absurdo abaixo — copiado da página da ABPC (Associação Brasil das Pistas de Competição), com a fotos ao lado, e enviado por uma amiga — supera tudo isso em gênero, número e grau (e dispensa mais comentários):

"E foi em 18 de maio de 1969, que Graham Hill venceu pela 5ª vez o GP de Monaco. Tornou-se assim o Mr. Monaco, pois ganhou lá em 1963/64/65/68/69. Este GP foi suigeneriz por diversos motivos." (sic — e SOCORRO!)

Que coisa mais feia!


A nota "Deu no DO", da coluna do Ancelmo, é mesmo assustadora — e em mais de um sentido.

Os problemas no cemitério da Ilha do Governador impressionam. E a frase abaixo incomoda:

"Aliás, dos túmulos, costuma, meu Deus!, emergirem roupas e sapatos dos falecidos." (sic)

Costuma emergirem? Meu deus!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A falta que o acento faz


Vi a matéria mais cedo, mas só agora me lembrei de comentar.

O passado "pôde" continua tendo o "chapeuzinho" que o diferencia do tempo presente, tá, pessoal?

Confesso que fiquei na dúvida ao ler o texto do Globo a respeito do incêndio em Del Castilho. Lá estava:

"Com o incêndio, cuja fumaça pode ser vista em vários bairros da Zona Norte (...)".

Será que hoje ainda se via tão claro sinal da tragédia de ontem?

Até tu, Iphan?

A amiga me envia a postagem do Iphan, com a obervação: "Olha o 'por conta' aí!" Segue o "primor":

"Solicitamos àqueles que nos têm enviado mensagens via Facebook, que encaminhem as mesmas para o e-mail ouvidoria.rj@iphan.gov.br ou através de nossa timeline, uma vez que por conta da política de informática da instituição não conseguimos mais respondê-las via Face."

Vamos fazer uma edição básica?

"Solicitamos àqueles que nos têm enviado mensagens via Facebook que encaminhem as mesmas para o e-mail ouvidoria.rj@iphan.gov.br ou por nossa linha do tempo, uma vez que, por causa da (ou devido à) política de informática da instituição, não conseguimos mais responder a elas por aqui."

Notem que a primeira coisa a sumir foi a vírgula depois de "Facebook". Por favor, preservem o idioma. Ele também é nosso patrimônio.

Turismo assombroso

Ainda nem tinha tomado café da manhã ou me sentado no sofá para ler o jornal — estava separando os classificados para jogar no lixo. Ver que a Irlanda era tema do Boa Viagem, porém, despertou meu interesse — e abri o caderno ainda na cozinha.

A decepção começou já no subtítulo, por causa de "Passeios (...) agregam história e paisagens (...)".

"Pronto", pensei, "agora, essas viagens promocionais que davam para os jornalistas estão indo pro pessoal do Marketing."

Mesmo assim, insisti, continuei a folhear e... encontrei um "castelo gourmet".

Parei aí. Castelos assombrados são uma tradição de Reino Unido, mas um que se regala com finos acepipes e bebidas é muito mais assustador! Vai que ele acha os turistas com cara apetitosa e... Tô fora!

Quase tão ruim quanto o soneto

Tentaram melhorar o inexplicável anúncio do Facebook "59 mulher olha 27" (ou qualquer número por aí). Vejam no que deu:

"Ela é 53 mas parece 32"!

Pessoal, o verbo "ser" dá a entender que 53 é o manequim da pessoa, não a sua idade.

O verbo "ter" está aí à disposição, use à vontade: "Ela tem 53, mas parece 32". Cabe no cantinho, não se preocupe. E a vírgula também quase não ocupa espaço.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Reclamar algo e reclamar 'de'


Merece destaque o comentário do amigo que me perguntou há pouco:

"Viu essa outro dia no Globo: 'Nokia e Motorola são os celulares mais reclamados no Procon'? Então quer dizer que estão indo no Procon buscar celular..."

Tem toda razão! O primeiro sentido de "reclamado" é "reivindicado, solicitado".

Para evitar tropeços, prefira o simples. Que tal dizer que as duas marcas "são campeãs de reclamações ", ou "lideram lista do Procon"?

Casamento arruinado


Muita gente abusa da contração "dentre" (de + entre), embora seu uso seja restrito (exemplo do Houaiss: "dentre os corredores, um disparou na frente").

Agora, encontrá-la na frase abaixo, num site educativo, de exercícios de Português, é imperdoável:

"b) Dentre poucos dias, a mulher ficará noiva."

Nananinanão! Pode ser "em poucos dias", "dentro de poucos dias"... "De entre" poucos dias, jamais!

Um graal incomoda muita gente

Não é a primeira vez que cito aqui bobaginhas encontradas na tradução (ou revisão) do livro "O Quarto Reino". 

Pois ontem bati o olho num plural desconhecido, de tirar o sono: "graais" (?!).
Procurei nos dicionários e só encontrei uma menção a "graaes" (com "e") no século XIII.

Pelo que já se viu em livros e filmes, procurar "o" Santo Graal dá um trabalho danado — imagine sair em busca de vários.

sábado, 11 de maio de 2013

Que idioma é esse, doutora?

Ontem, passei o dia "de molho". Hoje, passei o olho pela página de alguns amigos no Facebook. Numa delas, encontrei novas "pérolas planaltinas", da lavra de nossa autoridade mor.

Segurem-se:

Nós vamos concluir a interligação da Bacia de São Francisco,a interligação. Todo o programa de interligação nós vamos concluir uma parte, um trecho, até 2014, terceiro trimestre. O resto nós só conseguimos terminar em 2015. Mas a boa notícia é que para cada um real que nós gastamos da interligação do São Francisco, nós gastamos dois reais, para cada um nós gastamos dois, em quê? Nos sistemas de oferta de água dos estados.”

Não entendeu? Tente esta:

Por exemplo, eu vou dar um exemplo, morreu muita criação. Morreu muita galinha, morreu cabra, morreu boi, morreu criação. Então, nós vamos ter de retomar. Nós vamos criar um programa para retomar a criação. Justamente o bovino, tem de recuperar a criação. A mesma coisa com semente. Nós perdemos todas as sementes. E nós vamos voltar a distribuir.

Definitivamente, falta mais "interligação" entre os elementos das frases do que no Velho Chico. Que tal "retomar a criação" de um texto claro, sem embromação e mais voltas que o rio e a obra no dito cujo?

O carteiro ainda tem trabalho

Dando umas olhadas em "Impardonnables", no MAX, comprovo que mandar os diálogos para serem traduzidos sem o filme não dá certo.

Já no finzinho da história, o escritor pergunta à mulher o que ela está fazendo. Resposta, na legenda: 

"Apenas abrindo o e-mail."

No cenário, não há computadores, smartphones ou notebooks, só uma velha máquina de escrever. E, ao se virar, a personagem entrega ao interlocutor um livro e uma passagem, que estavam dentro de envelopes.

O(A) tradutor(a), claro, não viu a cena — e deve achar que ninguém usa mais outro correio que não seja o eletrônico.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Um drinque diferente

Decido assistir a um episódio de "Mad men" que havia gravado e tive que achar graça do "excesso de zelo" dos responsáveis pelas legendas.

O protagonista da série chega a um restaurante, pede um "old fashioned" e na tela aparece a tradução: "À moda antiga."

Não, pessoal! Mesmo no Brasil, o drinque à base de bourbon e club soda mantém seu nome original.

Fiquei até curiosa: será que algum bar, no exterior, oferece nossa caipirinha como "little country girl"?

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Quando a gracinha vira besteira

Essa mania de fazer trocadilho idiota em título é de uma indigência atroz e já deu o que tinha que dar.

Bom, os colegas parecem achar que não, pois hoje me saíram com um "espião quântico" (?!) na página de Ciência do Globo.

Tínhamos "o espião que me amava", "o que saiu do frio", "o que sabia demais"...

Alguém me explica o que é um espião "que diz respeito a um sistema físico cujas grandezas físicas observáveis assumem valores discretos, de tal modo que a passagem de um determinado valor para outro ocorre de maneira descontínua, segundo as leis da mecânica quântica"?

Negociações em altas esferas

O amigo jornalista que é assíduo colaborador deste blog reclama, com toda razão, da matéria que encontrou no site do Instituto Carbono Brasil. Está lá a bobagem, já destacada no título "Cresce ímpeto para combater mudanças climáticas":

"O pouco progresso visto nas últimas negociações climáticas das Nações Unidas nos faz questionar se os países estão de fato fazendo alguma coisa para combater as mudanças climáticas."

Últimas negociações climáticas? Teriam contado com a presença de São Pedro e Santa Clara? (lembro-me de ouvir, na infância, que esse era o departamento deles.)

Meu amigo vai mais longe: "Combater mudanças climáticas é uma babaquice, não existe. Ou combatemos os efeitos delas, ou, resilientes, nos adequamos a elas."

terça-feira, 7 de maio de 2013

Biológico e adotado

Português não é Matemática, matéria na qual, em certas operações, a ordem dos fatores não altera o produto (ou resultado).

Exemplo disso é a nota "Mães de maio", da coluna Gente Boa, que fala de Vanessa da Mata e de sua avó, "que adotou 20 crianças, além dos filhos biológicos".

Dito assim, cabe a pergunta: mas por que adotar os que ela pôs no mundo? Não bastava registrar?

Coquetel indigesto

Além de não oferecerem o menor grau de dificuldade, as cruzadas do Globo (ou "diretas" ou que nome tenha aquele passatempo comprado da Coquetel) trazem erros.

Hoje, um dos conceitos é: "adjetivo associado aos bombeiros".

Pensou em "corajoso"? Pois lá está "coragem", um baita substantivo.

Haja paciência! (outro substantivo. O adjetivo é "paciente", OK?)

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Papa não merece...

A amiga geógrafa me ligou, entre preocupada e brincalhona, para perguntar se o mais recente (des)acordo ortográfico tinha mudado a regência de algum verbo.

Ao ouvir minha resposta negativa, ela explicou: tinha acabado de ler o folheto (distribuído numa famosa igreja da Zona Sul do Rio) com a letra da música com a qual o Papa Francisco será recepcionado aqui.

Lá estavam, impressas várias vezes, as enganadas formas "lhe receber" e "lhe ter".

Como meu credo é o nosso idioma, peço, encarecidamente, que os católicos recebam seu representante máximo com o devido respeito, pois devem tê-lo em grande conta.

Que tal cantar direitinho pra ele, com os verbos transitivos diretos conjugados da forma correta?

De cerejas e amêndoas

Sempre ouvi falar do espetáculo que são as cerejeiras em flor, no Japão. Tem tido até matéria no "Jornal Hoje" a respeito (já vi mais de uma vez).

Por isso, fiquei intrigada ao encontrar no livro "O quarto reino" (página 119, durante uma visita do protagonista ao citado país) menção às "amendoeiras em  flor".

Fui pesquisar no dicionário e acho que matei a charada da confusão feita pelo(a) tradutor(a): o nome científico da cerejeira é Prunus avium e o da amendoeira, Prunus communis.

Mesmo assim, é estranho, não? Como se não bastasse, quem traduziu o romance também parece ter aversão à crase.

Erro em dose dupla

Por que dar destaque ao deslize?

Na matéria "O pecado mora ao lado", do Globo de hoje, a fala do entrevistado foi registrada com erro: 

"De manhã, é um oásis. Mas, quando chega a noite e a madrugada, é um inferno."

O Lido ora é um oásis, ora é um inferno — e neste se transforma quando elas (a noite e a madrugada) chegam.

O deslize é desculpável. A repetição no "olho", em letras grandes, não.

Cacoetes transmissíveis

Está certo, a língua é viva e a imaginação de jornalistas e publicitários é fértil. Estes inventaram a "refrescância" e a "crocância"; aqueles, no Globo de hoje, criaram a "itinerância", em matéria sobre a obra do Leminski.

Na outra ponta, temos os colegas totalmente sem criatividade, que seguem modismos como cordeirinhos. É o caso do simpático apresentador do "RJ-TV", que usa "por conta disso" e "por conta daquilo" o tempo inteiro. 

Gente, volta pra escola e aprende a "causa", como o André Trigueiro, que assumiu o telejornal no sábado e soube usar a palavra direitinho.

Mais um modismo no ar

Ontem à noite, buscando alguma coisa pra ver antes de "Game of Thrones", bati no finzinho de um programa chamado "Reclame", em que a apresentadora falou muito dos "projetos diferenciados" que acabara de exibir.


Alguém pode me explicar o que isso significa? "Diferenciados" são os novos "alternativos", que saíram de moda?

Pague (multa) para entrar

Por que será que os responsáveis pelas legendas do "Fashion Police" resolveram traduzir "Hot ticket" como "Multa Quente"?

O segmento do programa trata do principal evento da semana (leia-se "aquele ao qual compareceram mais celebridades").

Ou seja, o tíquete aí é ingresso mesmo, não tem nada a ver com pena por infração.

sábado, 4 de maio de 2013

Tendo possibilidades, use-as

O amigo jornalista me escreve: "Dê uma lida na chamada de capa do Globo de hoje sobre punição de menor infrator. Parece ter sido escrito por uma criança. Tem coisas como '(...) possuem possibilidades (...)'."

Triste mesmo.

Juro que não entendo essa história de alguns colegas acharem mais chiques "possuir" do que "ter", "utilizar" do que "usar" etc. etc.
Citando outra amiga, pergunto: alguém aí "possui" uma gripe ou um vírus qualquer?

Também fico pensando no que acontecerá com o idioma quando um monte de palavras cair em "desutilização". Já imaginou?

Agregação de besteira

Essa mania de agregar ao Jornalismo elementos dessa língua feiosa chamada "marketinguês" cria monstrengos como esse título do blog de seriados da Veja:

"'Downton Abbey' terá linha de roupas e produtos agregados".

Cabem aí várias perguntas.

Estarão falando dos prestadores de serviço da propriedade? Os produtos ficarão reunidos na mansão? Ou vão criar um aglomerado deslumbrante como este aí da foto, visto pelas lentes do Hubble?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Qual é a causa?

O Globo precisa pedir a seus profissionais que ressuscitem a palavra "causa", morta, enterrada e substituída por "conta", sem critério algum.

O abuso do "por conta disso" e "por conta daquilo" chega a causar incômodo — ou seria "contar" incômodo?

Sim, porque, do jeito que vai a coisa, daqui a pouco "contas criminais" serão ganhas nos tribunais, teremos uma lei de "conta e efeito" etc. etc.